Na entrevista apresentada em forma de livro (O SAL DA TERRA - Cristianismo e Igreja Católica no Século XXI, Rio de Janeiro, Imago, 2005), o então cardeal Joseph Ratzinger afirmou: "Mas é verdade que a Igreja nunca deve, simplesmente, pactuar com o espírito do tempo. Tem de denunciar os vícios e os perigos de uma época; tem de interpretar a consciência dos poderosos, mas também dos intelectuais e daqueles que vivem, de coração estreito e confortavelmente, ignorando as necessidades da época etc. Como bispo, sinto-me na obrigado a cumprir essa missão... Lembro-me sempre das palavras da Bíblia dos Padres da Igreja, que condenam, com grande severidade, os pastores que são como cães mudos e que, para evitar conflitos, deixam que o veneno se espalhe. A tranqüilidade não é a primeira obrigação de um cidadão..." Eu não poderia extrair um melhor trecho para descrever o sentimento que brota do mais fundo das minhas entranhas e que me põe em movimento. Eu poderia quedar observando os acontecimentos, acumpliciando-me com a eles, buscando a falsa proteção do anonimato e do falso sentimento cordato, atribuído erroneamente aos brasileiros em geral. Mas não posso me omitir. Sei por intuição, e agora pelo ensinamento citado do bispo tornado papa, que é esse um dever de quem tem o espaço para falar com os outros. Um relance da verdade dita de forma clara vale mais do que todo o ouro do mundo. E a verdade é que a América Latina, diria mesmo o Ocidente como um todo, encontra-se em uma travessia perigosa. O mal como que tomou conta de tudo, a começar pelos centros de poder de Estado e dos centros de pesquisa e saber Ter no comando da Igreja alguém como Bento XVI é uma felicidade e uma garantia de que a cegueira e a pusilanimidade não terão a subserviência das autoridades eclesiásticas da fé cristã. Mas a resistência ao mal - ao mal em geral, e não apenas na política - terá que ser feita a partir do indivíduo isolado, a pequena semente de mostarda que guarda os gênes da verdade perene. Mais do que nunca o triunfo da verdade depende da coragem dos homens tomados individualmente. Nunca a mentira teve tanta força, tanto poder. Nunca os pequenos inquebrantáveis foram tão necessários para manter a razão humana acesa acima da linha d’água das potestades que dominam os governos desse mundo. Perseverar na verdade é perseverar na sanidade, é salvar a inteligência. Por isso não quero ser como os cães mudos aludidos por Ratzinger. É preciso denunciar com toda força o hedonismo, a mentira institucionalizada nas universidades, a falsa filosofia marxista que nada explica e tudo falsifica e sobretudo a falsificação descarada dos discursos dos políticos. Mais do que nunca tomar o poder tornou-se o atalho mais curto para o usufruto das riquezas, em prejuízo dos que trabalham. A sedução mefistofélica do consumismo está em toda a parte, fazendo contraponto à miséria fabricada das massas despossuídas. A massa humana, desorientada pelo ruído da mentira institucionalizada nos meios de comunicação, mais do que nunca precisa da orientação de quem tem o relance de verdade, de quem de fato carrega os restos de Israel, no dizer do profeta. O pequeno eco da verdade tem o poder de romper o barulho estridente dos malditos e confortar as almas desamparadas. Nota do Editor: José Nivaldo Cordeiro é Executivo, nascido no Ceará. Reside atualmente em São Paulo. Declaradamente liberal, é um respeitado crítico das idéias coletivistas. É um dos mais relevantes articulistas nacionais do momento, escrevendo artigos diários para diversos jornais e sites nacionais. É Diretor da ANL - Associação Nacional de Livrarias.
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