13/09/2025  20h55
· Guia 2025     · O Guaruçá     · Cartões-postais     · Webmail     · Ubatuba            · · ·
O Guaruçá - Informação e Cultura
O GUARUÇÁ Índice d'O Guaruçá Colunistas SEÇÕES SERVIÇOS Biorritmo Busca n'O Guaruçá Expediente Home d'O Guaruçá
Acesso ao Sistema
Login
Senha

« Cadastro Gratuito »
SEÇÃO
Opinião
29/01/2006 - 20h28
Política, diplomacia e realidade
Ricardo Viveiros
 

Morre o general brasileiro Urano Bacellar, comandante da operação de paz da ONU no Haiti.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem viajado muito, por todo o mundo, em busca de bons negócios para o Brasil. Muitos o condenam, outros o elogiam e, na verdade, poucos alcançam os resultados positivos desse trabalho. Sempre bem-humorados, os cariocas já perguntam qual é a diferença entre Lula e Deus. Resposta: Deus está em todos os lugares, Lula já esteve... Mas, como dizia o cronista social Ibrahim Sued, sempre criticado por seus comuns erros de português: "Os cães ladram e a caravana passa".

Em cada viagem, em cada encontro, em cada contato entre o Brasil e outro qualquer país do Planeta, antes dos negócios está a obsessão por uma cadeira (permanente) no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Uma busca que vem lá dos tempos do então presidente Fernando Henrique Cardoso, outro incansável viajante. Enfim, o Brasil não desiste de buscar apoios para essa já histórica pretensão. Será que Lula vai conseguir o que FHC não foi capaz? Quem viver verá.

Mas, com certeza, essa luta por estar no Conselho de Segurança da ONU, nestes tempos de insegurança, é coisa de país pobre com pinta de rico. E está nos custando muito caro...

Embora as economias da América Latina tenham crescido, em média, quase 6% no ano passado, não há o que comemorar. A verdade é que a fome continua, e com ela cresce a violência. Não existe nada mais desigual no mundo do que a América Latina. A distribuição de renda na região é injusta. Portanto, esse crescimento econômico não vai diminuir a pobreza. E, a rigor, essa evolução positiva é pontual, fruto de variações nos preços de alguns produtos, como o petróleo, que colocam o continente no chamado vôo de galinha - com a mesma força que sobe, desce em seguida. Segue a corrupção, sobe a dívida social, aumenta o débito com o mundo rico. Esta é a realidade latino-americana.

Excetuando o Chile, que vem realizando um efetivo resgate da sua dívida com os pobres, todos os demais países, inclusive o Brasil, apresentam um mesmo triste quadro de miséria. Não há emprego, educação, saúde e moradia. E, portanto, não há dignidade.

Mas, isto sim, há recursos para mandar tropas ao Exterior, em nome do sonho político de fazer diplomacia internacional. Que chic, não? Por exemplo, a nossa missão militar no Haiti já levou dos sem terra, sem teto, sem educação, sem saúde, sem futuro do Brasil a módica quantia de R$ 340 milhões, nos últimos 12 meses. Este gasto "diplomático" com a paz mundial já é o dobro do inicialmente previsto, bem como a missão já ultrapassou todos os prazos determinados e, como a nossa contribuição provisória (CPMF), já se tornou algo definitivo. Até porque, a crise no Haiti é um mal crônico. Tal e qual a megalomania brasileira.

A bondade externa do Brasil não se localiza apenas na América Central. Mandamos R$ 5 milhões para as vítimas do último maremoto na Ásia, bem como investimos R$ 1 bilhão em seis outros países, via BNDES, entre 2003 e 2005. Você já tentou tirar um financiamento qualquer no BNDES? Tente e verá o quanto é difícil, na verdade quase impossível. Principalmente se você for brasileiro, pobre e tiver um bom projeto. Mas, se for para uma estrada no Paraguai, sinalização viária na República Dominicana, metrô na Venezuela, hidrelétrica no Equador, qualquer coisa na China e, até mesmo, no rico Chile, tudo bem, o dinheiro sai na hora.

Sabemos que a ONU, embora em fase de transição e reformas na seqüência das comemorações de seus 60 anos, deverá reembolsar pelo menos um terço do que estamos gastando na missão no Haiti. Entretanto, não consigo deixar de ouvir meu velho pai dizendo: "Não se pode despir um santo para vestir outro". Embora nobre, é ineficaz dividir pobreza. O ideal seria compartilhar riqueza. Com o nível de problemas internos que temos no Brasil, fica muito estranho gastar tanto no Exterior. Ao invés de fazermos uma boa imagem no Haiti, país com o qual nunca tivemos, não temos e jamais teremos quaisquer relações, melhor seria socorrer nossos irmãos que vivem aqui como os haitianos lá: miseravelmente.

O Brasil tem uma conhecida e reconhecida história de paz. Isso já nos basta para, quem sabe, após solucionar problemas internos mais graves e urgentes, então pretendermos a elegante posição de conselheiros da segurança mundial. Por hora, é necessário saciar a nossa própria fome, em nome da segurança nacional. E olhe lá!...


Nota do Editor: Ricardo Viveiros é jornalista e escritor.

PUBLICIDADE
ÚLTIMAS PUBLICAÇÕES SOBRE "OPINIÃO"Índice das publicações sobre "OPINIÃO"
31/12/2022 - 07h25 Pacificação nacional, o objetivo maior
30/12/2022 - 05h39 A destruição das nações
29/12/2022 - 06h35 A salvação pela mão grande do Estado?
28/12/2022 - 06h41 A guinada na privatização do Porto de Santos
27/12/2022 - 07h38 Tecnologia e o sequestro do livre arbítrio humano
26/12/2022 - 07h46 Tudo passa, mas a Nação continua, sempre...
· FALE CONOSCO · ANUNCIE AQUI · TERMOS DE USO ·
Copyright © 1998-2025, UbaWeb. Direitos Reservados.