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SEÇÃO
Crônicas
01/02/2006 - 11h16
Para sempre Lolita
Chico Guil - Agência Carta Maior
 

Muito mais que uma obra pornográfica - o livro de Nabokov foi execrado por diversos editores, antes da primeira publicação, na década de 1950 -, Lolita é um cântico da beleza, da loucura e do desespero. Algo como aquela flor... você sabe, aquela flor que parece um pecado, de tão bela, nascida do mais pútrido lodaçal!

Tente imaginar um intelectual de meia idade que seqüestra uma garota de 12 anos e obriga-a a manter relações sexuais diárias durante dois ou três anos. Ela é uma "ninfeta", adolescente com características sensuais específicas que a destacam entre outras garotas pelo grande apelo visual de seu corpo em formação - segundo o protagonista. O maior drama do seqüestrador narrador ninfomaníaco é imaginar o seu "amor" com a avançada idade de quatorze ou quinze anos, quando os quadris já lhe dariam as formas de uma mulher adulta. Isso seria para ele insuportável. Paradoxalmente, o personagem também convive sexualmente com mulheres bem mais velhas que a ninfo-Lolita, inclusive com a mãe da menina. Sua distração predileta é tentar convencer o leitor de que Lolita também não era nenhuma santa.

A transformação dessa história torpe numa jóia da literatura faz de Vladimir Nabokov um dos mais notáveis romancistas de todos os tempos. Suponho que muita gente sensível vomita ao contato açucarado dos venenos do autor - uma sensação parecida com ver um serial killer destampando a cabeça de um silencioso inocente enquanto tece poesias sobre as delícias da vida. Talvez devido a essa carga excessivamente psicótica do protagonista, certos críticos dizem que Lolita é uma obra menor desse escritor russo naturalizado americano. Não há dúvida de que cometeu outras grandes obras, todas com frases ricas e histórias fascinantes. Mas exatamente porque em Lolita consegue fazer brotar sentimentos de humanidade superior na descrição de taras abomináveis, ele deu um passo adiante, chegou àquela divisa onde a arte desprende-se da timidez ideológica e paira solene, como pássaro encantado sobre uma humanidade petrificada.

Ao leitor resta fechar o livro nas primeiras páginas, ou questionar se o seu próprio amor algum dia conseguirá traduzir-se de forma tão refinada quanto o desse personagem criminoso, que chora cântaros pela doce Lolita enquanto mostra, na têmpera de uma consciência louca e ao mesmo tempo superelaborada, uma criatura em plena florescência entregue às fantasias infames de um demônio.

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