Apesar de o setor supermercadista ter fechado 2005 com crescimento de apenas 0,66% ante 2004, bem abaixo da projeção inicial de 2,5%, nossa disposição, como sempre, é de começar o ano com otimismo. Já que estamos em ano de Copa do Mundo, permito-me recorrer ao comportamento típico dos torcedores em início de temporada para falar com convicção que 2006 será muito melhor que 2005. Assim como temos uma seleção recheada de craques no futebol, fatores macroeconômicos apontam para a queda gradual da taxa de juros, diminuição da taxa de desemprego, recuperação da renda e a elevação real do salário mínimo que irão certamente ajudar a reverter o quadro das vendas. O incremento de R$ 50,00 no bolso de quase 39 milhões de pessoas a partir de abril representa uma injeção de R$ 25 bilhões na economia ao longo de 2006 e, com certeza, vai impactar positivamente o desempenho dos supermercados. O crescimento físico das redes apresentado nos últimos anos - da ordem de 8 a 10% - é outro fator que reforça nosso otimismo para 2006. Os supermercados têm continuamente ampliado e otimizado seu espaço físico, ampliando também a oferta de serviços. A qualificação dos seus recursos humanos e os consideráveis investimentos em automação comercial têm como conseqüência a relevância e a projeção que o setor conquistou nos últimos anos. Afinal, nossas mais de 72 mil lojas empregam diretamente 800 mil pessoas e movimentaram em 2005 cerca de R$ 105 bilhões, quase 6% do PIB nacional. Para que nossas previsões se confirmem, é preciso aprendermos com a performance insatisfatória de 2005. O desempenho abaixo da expectativa só reforça a tese de que o consumidor está endividado. Vários fatores contribuíram para isso. Um deles foi o crédito consignado. A queda do poder aquisitivo começou a ser sentida pelo varejo logo no segundo trimestre de 2005. Na prática, o crédito com desconto em folha deu um impulso no consumo no início do ano, mas o endividamento deixou a população sem fôlego para manter o ritmo de gastos. Somado ao impacto do aumento de tarifas e tributos públicos o consumidor viu-se obrigado a gastar menos e a buscar produtos de menor valor. A ponta de gôndola reflete a conjuntura econômica do país. O ciclo se fecha - o consumidor não compra porque está endividado e a indústria produz menos porque os pedidos do varejo estão reprimidos. Os dados do final de 2005 estão alinhados com a freada no crescimento do país verificada no último trimestre de 2005. Infelizmente, o conservadorismo do Banco Central impediu que o Brasil registrasse um dos menores crescimentos entre os países emergentes. Uma pena, uma vez que o cenário mundial era amplamente favorável ao nosso país. Um agravante do balanço de 2005 que acaba de se tornar público é a comparação do desempenho das vendas do setor entre os meses de dezembro de 2004 e 2005. Houve uma queda real de 3,84% nas vendas do último mês. Um absurdo, se considerarmos que dezembro é tradicionalmente um mês favorável aos supermercados por conta das festas de fim de ano. A performance apresentada fica ainda mais frustrante na medida em que o índice ABRASMercado, que monitora os preços de 35 produtos de largo consumo, registrou queda real de 5,52% durante o ano. Esse dado revela que os preços dos produtos se mantiveram estáveis e que a queda das vendas deu-se porque o consumidor com menos renda se viu forçado a comprar menos ou migrar para produtos mais baratos. Voltando ao futebol, me espelho nesta época de preparação para a Copa do Mundo para uma analogia: todos esperam a vitória, mas o desejo infelizmente nem sempre combina com o resultado dos jogos. Em 2006, se depender só da vontade do varejo, o crescimento será o maior possível. Estamos trabalhando para isso. Porém, assim como no Mundial, dependemos de variáveis externas incontroláveis. Por isso, aposto numa recuperação mínima de 2,5% nas vendas. Se o cenário econômico finalmente entrar num ciclo virtuoso de crescimento e o governo adequar a carga tributária, certamente atingiremos um índice maior. Diferentemente do futebol, nesse caso, ganham todos. Nota do Editor: João Carlos de Oliveira é Presidente da Abras (Associação Brasileira dos Supermercados).
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