Li em algum lugar que, em 2006, o Fantasma está fazendo 70 anos. Sabe o Fantasma, né? Aquele personagem das histórias em quadrinhos, que não morre nunca, usa um anel com uma caveira e vive na África cercado de pigmeus. Então. Fazia tempo que eu não ouvia falar nele, no Fantasma. Achei até que já tinha morrido. Mas, pelo jeito, e comprovando sua fama de imortal, ele ainda está por aí, firme e forte. Acho que a gente só não encontra muito com ele porque, hoje em dia, tem super-herói pra dar com pau. Só de X-Men tem uns vinte. Antigamente não era assim. Os super-heróis eram só uns cinco ou seis que, mesmo assim, davam conta de proteger os fracos e oprimidos do mundo todo numa boa. Entre aqueles cinco ou seis super-heróis, no entanto, o Fantasma ficou gravado nas minhas lembranças por causa de uma história engraçada. Não sei se você sabe, mas o Fantasma, antigamente, era vermelho. O uniforme dele, eu quero dizer. O Brasil era o único país do mundo em que o uniforme do Fantasma não era roxo. Quando ele foi publicado aqui pela primeira vez, a gráfica responsável teve uns problemas com as tintas e só conseguiu imprimir o gibi na cor vermelha, e foi assim que saiu o primeiro número. Depois, eles foram deixando, foram deixando e acabou ficando vermelho para sempre. Mas isso ninguém sabia. Quando, lá pelo fim dos anos 70, a TV começou a passar um desenho animado com o Fantasma usando o seu uniforme tradicional no mundo todo, ou seja, naquele roxinho meio gay, nós, brasileiros, ficamos absolutamente indignados. A minha turminha, especialmente. Não que nós fôssemos fãs tradicionalistas do personagem ou coisa que o valha. Muito pelo contrário. Nós até que éramos meio contra esse negócio de super-heróis norte-americanos, representantes mascarados do imperialismo e da opressão capitalista. Afinal, eram os anos 70! Militares, comunismo, bandeiras vermelhas, revolução, lembra dessas coisas? Então. E quando tiraram o vermelho do uniforme do Fantasma, a gente achou que isso era coisa dos militares, censurando uma suposta mensagem socialista subliminar. Mas nossa alegria pela existência de um super-herói marxista durou muito pouco. Com a confusão, toda a imprensa começou a falar sobre o uniforme, explicando aquele negócio da gráfica, das cores e tudo o mais. Foi uma frustração geral. O Fantasma nunca tinha sido vermelho, afinal de contas. Muito menos socialista. Hoje, lembrando dessa história toda, não pude deixar de fazer uma certa comparação com a história do Lula e essa turma do PT. São tantas as coincidências que me deu até medo de, como o personagem, eles também serem imortais.
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