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Opinião
04/02/2006 - 21h00
A pobreza e o efeito estufa
Eugenio Singer
 

Se todos os passageiros de aviões do mundo doassem sua milhagem a programas sociais, haveria US$ 900 bilhões para mitigar a pobreza.

É impressionante como a humanidade consegue esconder-se atrás dos seus grandes erros. Bastou a inteligência de Harvard pensar na forma de traduzir a poluição atmosférica em ganhos de derivativos financeiros, que o mundo todo se envolveu na questão de Quioto e do tão falado Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Gases de efeito estufa! Este trinômio, também conhecido pelas letras GHG (Green House Gases), já movimenta bilhões de dólares mundialmente. E esta cifra subirá tranqüilamente aos dois dígitos de bilhões até o fim do Protocolo de Quioto, em 2012. Os economistas, atordoados, já começam a pensar no período pós-Quioto.

Afinal, a temperatura da Terra está subindo! E não somente devido à enorme quantidade de emissões dos gases de efeito estufa, gerados pela queima de combustíveis fósseis, pelas queimadas e desmatamentos, pelos gases emanados dos aterros sanitários ou pela produção extensiva de gado. A temperatura da Terra aumenta significativamente porque não encontramos um mecanismo para aliviar a pobreza.

A pobreza, centrada no grande aumento demográfico, deve aumentar o calor no planeta de forma muito mais significativa do que as emissões geradas pelos países desenvolvidos. O efeito de cada novo consumidor é cruel para o planeta. Para verificar esta hipótese, basta fazer o teste e calcular o seu impacto sobre o clima (www.globalexchange.com.br). Verão que se todos tiverem um consumo parecido com o seu, precisaremos, no mínimo, de quatro planetas Terra para absorvê-los.

Precisamos reconstruir o modelo criado pelas Nações Unidas e agências multilaterais. O mundo mudou demais nos últimos 60 anos e perpetuamos um sistema financeiro arcaico e paquidermal. É sabido que quase 30% dos empréstimos contraídos pelos países membros do sistema financeiro internacional vão para a corrupção e não atingem o seu devido fim, que seriam os projetos de desenvolvimento e o alívio da pobreza. Sabe-se, também, que se muitos países não tivessem contraído dívidas com bancos regionais ou mundiais de desenvolvimento, estariam em melhores condições no mundo de hoje, pois pesam sobre eles dois grandes fardos: o da dívida contraída e respectivos juros e os projetos não desenvolvidos. Todos sabem disto. Só faltam aparecer um Jefferson e dois publicitários para revelar!

Os governos não são mais soluções. Ao contrário, são "sinks" ou drenos de investimentos. Talvez o ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton tenha mesmo razão, ao afirmar que o fenômeno da consolidação das ONG’s seja uma das soluções para o alívio da pobreza mundial. Clinton afirma, ainda, que mesmo em um país com governança pouco efetiva, quando uma rede de ONG’s chega, o seu trabalho pode salvar muitas vidas, abrir empresas e promover o desenvolvimento.

Será que toda inteligência acadêmica mundial é incapaz de pensar em um MDL para aliviar a pobreza? É difícil pensar que, ao invés de investir nos países do Anexo I do nível de desenvolvimento, não poderiam investir em nações onde cada dólar teria um efeito multiplicador altíssimo para reduzir a temperatura da Terra, aliviando a pobreza? Ou será que os intelectuais pensadores continuarão fechando seus olhos e pensando que o futuro que lhes caberá será sua exclusão do mundo social e o confinamento para pensar confortavelmente? Será que não querem mesmo é um mundo virtual, livre das imagens e dos cenários desoladores que vivenciamos atualmente?

Se cada um cumprir a premissa básica da Clinton Global Initiative (CGI), de sair com uma lista de tarefas para aliviar a pobreza, quantos pobres conseguiremos transformar? Esta seria a principal meta real do milênio: a capacidade individual de abdicar do consumo e aliviar a pobreza. A conta parece complexa para as mentes brilhantes, mas pode ser simples e indolor. Bastaria que todas pessoas que voam de avião doassem suas milhas para um projeto de alívio da pobreza.

Sabe-se que, hoje, o valor nominal das milhas é equivalente ao capital em uso no planeta, ou seja, cerca de US$ 900 bilhões, uma soma suficiente para melhorar a qualidade de vida neste mundo, sem passar pelas agências multilaterais obviamente! Ademais, deixar de usufruir as milhas obtidas não é de todo mal, visto o risco que a aviação nos tem imposto. Vale a pena tentar! Quem abre a conta?


Nota do Editor: Eugenio Singer, empresário, membro do Conselho de Administração e diretor para a América Latina da ERM Brasil. Dirige o Instituto Pharos, ONG dedicada à defesa da costa brasileira.

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