Recordo que, em um dos debates da campanha eleitoral de 2002, fizeram ao candidato Lula uma pergunta sobre a Cide. Tratava-se da conhecida Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico, criada para custear investimentos na infra-estrutura de transportes do país e incidente sobre o velho filão tributário dos combustíveis. Lula não sabia do que se tratava. E parece que continua sem saber, porque o dinheiro da Cide só tem servido para engordar o superávit primário, enquanto a infra-estrutura de transportes do país permanece mais esburacada que queijo suíço. Azar o nosso, que viemos a esse mundo para sustentar a tal de máquina que trabalha para si mesma e contra nós. Virada a folhinha - maravilha! -, caímos num ano de sucessão presidencial. Como sabemos, os anos eleitorais costumam ser os melhores de nossas vidas. A sociedade adquire importância e seus interesses e necessidades não apenas entram na pauta de todos os candidatos, mas resultam beneficiados por um surto de generosa atenção. O presidente da República anda por aí, fazendo comício e quebrando garrafa de champanha em batismo de carro-pipa, por conta dos contribuintes, porque, afinal, ainda não decidiu se é candidato ou não. Faz sentido. Como o governo parece galinha de supermercado - é frio e não tem pé nem cabeça -, nada há de mais em se buscar vice para uma chapa que oficialmente não tem coisa alguma acima do pescoço. Será uma campanha difícil. Adversários com boa munição. Dinheiro escasso para todos. Partidão endividado. Contribuintes retraídos. Por isso, confesso que, quando ouvi falar pela primeira vez na operação tapa-buracos, eu pensei em dívidas de campanha, caixa 2, prestação de contas et cetera e tal. Mas não. A operação, anuncia-se, vai tapar buracos nas rodovias, para corrigir "por um ano apenas" (na palavra do próprio ministro dos Transportes!), aquilo que não foi feito em três porque o dinheiro da Cide acabou servindo para quê, mesmo? Sei lá. Mas, pelo jeito, não fui o único a ter aquela suspeita inicial, porque o TCU avisa que está de olho vivo nesses buracos. Nota do Editor: Percival Puggina é Arquiteto e da Presidente Fundação Tarso Dutra de Estudos Políticos e Administração Pública. Conferencista muito solicitado, profere dezenas de palestras por ano em todo o país sobre temas sociais, políticos e religiosos. Escreve semanalmente artigos de opinião para mais de uma centena de jornais do Rio Grande do Sul.
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