Discute-se abertamente se já começou a campanha eleitoral. Ora, é claro que começou. Todos sabem disso. Está aí, para comprovar, o aumento do salário mínimo, depois de ouvidos os sindicatos, que, com inaudito poder de barganha, conseguiram impor o que muitos outros grupos até então não haviam logrado: aumentar o limite de isenção do imposto de renda e, de quebra, antecipar a entrada em vigor do aumento do salário mínimo, benesse que os militares tentaram em vão nos últimos anos. Está aí, também, o surpreendente aumento do valor da bolsa-escola, que passou de R$ 38,00 para R$ 91,00 num passe de mágica, desautorizando todos os que vinham dizendo que não havia dinheiro para nada. Nossas rodovias, após anos e anos de penúria, estão recebendo recursos num volume que há muito não viam. E certamente muitos outros investimentos de vulto ocorrerão nos próximos meses, o que, sem dúvida, vai melhorar significativamente a imagem do partido do governo perante o eleitorado. Disse o Presidente da República, em recente visita ao Nordeste, que será criticado tanto se realizar obras como se não as realizar e, em conseqüência, prefere ser criticado por realizá-las. Tem razão, em parte, e reconheçamos, a frase produz efeito, tanto que a oposição surpreendida, ainda não sabe direito o que fazer e perde-se em ações inócuas como questionar a urgência das obras rodoviárias ou denunciar o início antecipado da campanha eleitoral. É óbvio que todas as medidas tomadas são simpáticas e realmente vão aliviar as agruras imediatas da população. Não há dúvida de que nosso salário mínimo é baixo, que a bolsa-família, quando ministrada corretamente, contribui para melhorar a distribuição de renda e que nossas combalidas estradas há muito estão a clamar por atenção. É preciso atentar, porém, para o fato de que os efeitos benéficos de tais medidas surgirão de imediato, mas os maléficos só aparecerão após as eleições, quando, no próximo mês de janeiro, for calculado o índice de inflação de 2006, quando a rápida desvalorização da moeda corroer o aumento do salário mínimo e quando os buracos das estradas voltarem a aparecer. Pior ficarão os que não houverem sido beneficiados com o generoso aumento salarial e os que não tiverem direito a bolsa-escola, mas esses são minoria... E aí a eleição já terá passado... Enquanto isso o Congresso, ainda em convocação extraordinária, com uma oposição ineficaz, tenta tapar o sol com uma peneira, com um número escandaloso de funcionários, mantendo para seus membros um recesso privilegiado, com altíssimos salários diretos e indiretos, trabalhando apenas três dias por semana e pagando “jeton” mesmo para quem não comparece às sessões. Na contramão da vontade popular, não percebe que a nação está ávida de honradez, austeridade e trabalho sério. É evidente que a campanha eleitoral já foi iniciada e que o partido do governo, que saiu primeiro e tem nas mãos a máquina mágica, está em franca vantagem. Eles são profissionais e ainda não mostraram toda sua força. É evidente, também, que se for apresentado aos eleitores o mesmo quadro de candidatos de 2002, o dito partido será reeleito sem sombra de dúvida. E aí só Deus sabe o que acontecerá. Nota do Editor: Mário Ivan Araújo Bezerra é Oficial-General da Reserva do Exército.
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