2006 é ano eleitoral. Os partidos e os candidatos não se definiram e o ano ainda está no começo, mas nunca será cedo demais para tentar formar a consciência política. Se meus três leitores compreenderem este artigo desta forma, estas palavras prematuras não terão sido inúteis - assim como a minha intenção de repeti-las nos próximos meses. Política é um jogo dialético. Um grupo detém o poder enquanto outros grupos aparentemente diferentes igualam-se e unem-se (às vezes sem saber) na busca pelo poder e nas críticas aos políticos da situação. A prática, mesmo repleta de perfídia, é saudável por pelo menos uma razão: no combate aberto entre oposição e situação é que vêm à tona algumas verdades fundamentais para o bom funcionamento da democracia. De alguma forma isso transpareceu nas sessões cinematográficas das CPIs de 2005. É claro que essa qualidade depende da capacidade dos políticos. Há dois tipos de oposição que arruínam a democracia. A primeira é a oposição café-com-leite: divergindo em miudezas e gastando energia para discutir assuntos sem importância para a população - como datas comemorativas, moções e nomes de ruas -, ela deixa assuntos fundamentais apodrecendo no fundo dos arquivos, escondidos sob pilhas de papéis. A segunda é a oposição de mentirinha, que é oposição apenas na legenda do partido ou nas declarações à mídia e que em plenário ou noutros momentos decisivos concorda silenciosamente com o que a situação propõe. Nos dois casos, o resultado é um só: a oposição perde de vista sua função primordial, que é equilibrar os discursos oficiais e oferecer aos cidadãos "o outro lado da moeda". Assim, a democracia perde um pouco do seu sentido, pois as eleições serão, ano após ano, a alternação de grupos que pensam e agem de forma essencialmente idêntica. Estas palavras servirão também para as eleições municipais de 2008 - isto se elas não vierem antes. Aparentemente a condição política de Ilhabela não é das melhores. A julgar pela oposição que o prefeito Manoel Marcos tem recebido ao longo de seu segundo mandato, poderíamos considerá-lo reeleito caso um terceiro mandato lhe fosse permitido. Com a oposição que o prefeito tem encontrado em Ilhabela, quem precisa de apoio político? Diante de um adversário incompetente, basta cruzar os braços e assistir sua ruína: suas próprias palavras e ações fazem esse serviço, como no caso do lutador que, ao tentar em vão desferir vários golpes no seu oponente, cansa-se sozinho, escorrega, cai e é nocauteado pelo chão. Um dos fundamentos da boa oposição é sempre ter na manga uma alternativa (mesmo que seja apenas teórica) melhor do que aquela oferecida pela situação. Ilhabela carece de bons políticos de oposição, dispostos a compreender este lugar. Lamentavelmente o estudo é considerado um luxo até mesmo por aqueles que são responsáveis por fazer leis e executá-las. O trabalho de alguns políticos ilhabelenses resume-se a manusear a caneta, manter a garganta limpa e desligar o cérebro. Com isso, mesmo que não roubem, por mais honestos que sejam, transmitem uma mensagem auto-evidente: o estudo não vale nada, o aperfeiçoamento só interessa se significa votos e/ou dinheiro e estas são as únicas formas de ser melhor do que os outros políticos. E assim eles são derrotados por eles mesmos e a política é nivelada por baixo. Ainda que não tenhamos eleições municipais este ano, a efervescência política deste ano poderá servir como preparação para 2008. Pessoalmente nunca apostei em mudanças sérias através do voto, mas sempre acreditei na mudança através do debate sincero de idéias, no diálogo entre pessoas e na força da dialética - pois a política genuína (veja Aristóteles, não Maquiavel) é feita de pessoas, não de legendas e de coligações. Por isso, faço apenas um pedido: uma oposição melhorzinha.
Nota do Editor: Christian Rocha vive em Ilhabela, é arquiteto por formação, aikidoka por paixão e escritor por vocação. Seu "saite" é o Christian Rocha.
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