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Opinião
11/02/2006 - 15h32
Asinidade estratégica
Luciano Pires
 

Então me pego pensando... como é que um sujeito tão inteligente... aliás, um sujeito não, vários sujeitos, tão inteligentes, em papel de liderança na empresa, conseguem tomar uma decisão idiota, em nome de uma estratégia?

Pois saiba que já participei de decisões assim. Já fiz parte, na verdade faço, de tomadas de decisão das quais depois me envergonho. Compactuei com a burrice e assinei embaixo...

Algumas vezes assino com a consciência de ser contra, mas de perder para a maioria. Perder para o consenso. Outras vezes, por "deixar pra lá". E outras, conscientemente fazendo parte da burrada.

O interessante - ou assustador - é que essas pessoas, eu inclusive, no momento da tomada da decisão, estão usando a inteligência. Pensam, elaboram, criticam, analisam e... Agem como asnos.

É o que eu chamo de "asinidade" estratégica. Poderia ser "asnidade", mas "asinidade" soa melhor...

E se você não sacou, o termo vem de asno mesmo.

Na asinidade estratégica pensamos que estamos cortando gordura enquanto cortamos os músculos necessários para o crescimento. A asinidade estratégica vive do curto prazo, das decisões imediatas que vão representar um risco gigantesco para quem vier lá na frente. Seja outro gerente, outro político ou a próxima geração. A asinidade estratégica coloca as questões egocêntricas à frente das questões práticas.

A asinidade estratégica é o recurso dos covardes e incompetentes.

O asno estratégico não faz nem deixa fazer. E é capaz de discorrer por horas sobre a correção de seu ponto de vista, revestindo seu discurso com argumentações consistentes, calcadas na "prudência", "ética", "interesses dos acionistas", "imagem", "padrões" e outros jargões do mundo dos negócios, que povoam o universo do asinino estratégico.

A asinidade estratégica floresce principalmente no consenso. Na opinião da maioria, preocupada em manter-se nas áreas de conforto. Nasce da má interpretação do conceito de "democracia". Para os ideologicamente estressados, explico: democracia é bom, é necessário ouvir todos os envolvidos, é bom ter a participação de todos. Mas só até um estágio. Dali pra frente, alguém tem que assumir a bronca e partir pra decisão. É quando o cagaço e a ignorância dão luz à asinidade estratégica.

A vacina contra a asinidade estratégica é a ação individual. É quando alguém tem a luz, percebe o desastre, chama a atenção e luta com todas as forças para mudar a decisão.

Mas esse alguém tem que ter um repertório. Tem que ter conhecimento. Tem que se fazer respeitar. Tem que ter... culhões.

Culhões? Na República do Cagaço? Pois é...

É fácil? Claro que não. Quando eu tinha meus vinte, trinta anos, esbanjava energia suficiente para brigar o dia todo contra a asinidade dominante. Mesmo perdendo em 99% das vezes...

Hoje, beirando os cinqüenta, não tenho mais saco. Fiquei ranheta, impaciente, insuportável. Teimoso como um... Asno!

Odeio a asinidade estratégica. Por causa dela me sinto burro.

Felizmente tenho esperanças. Sou um asno consciente.

E é essa consciência que me dá esperanças de um dia, lucidamente, desasnar.


Nota do Editor: Luciano Pires é jornalista, escritor, conferencista e cartunista.

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