Custei a me curar da mordida de inveja que sofri na semana passada, quando por aqui passaram dois meninos com pouco mais de 30 anos e uma fortuna de US$ 11 bilhões cada, graças a um negócio do qual, se tivessem me chamado para sócio no início, eu recusaria por considerar a idéia sem futuro. Como iria sobreviver uma empresa que se propunha a buscar gratuitamente respostas para todas as dúvidas de seus usuários? Hoje, apenas sete anos após ser fundada numa garagem, a tal empresa vale cerca de US$ 100 bilhões, mais do que a Coca-Cola e a General Motors, e ameaça a supremacia da poderosa Microsoft, de Bill Gates, o primeiro e o maior bilionário às custas das relações virtuais. E pensar que no meu tempo “virtual” era o oposto de real, o que ainda não existia ou só existia potencialmente, ou seja, algo que não poderia tornar alguém rico, a não ser em tese, virtualmente. A realidade agora é que, sem Google (sua pronúncia é quase a de uma onomatopéia: gúgal), não se vive aqui e, pelo jeito, nem na China. Seus serviços são indispensáveis em todo o mundo. Não conheço jornalista, escritor, professor que não recorra a esse instrumento de busca. Outro dia me surpreendi recolhendo nele informações sobre... mim mesmo. Descobri que até aí ele sabe mais do que eu. Sabe, guarda, não esquece e fornece para quem quiser. Levei um susto quando fui informado que meu nome aparece 78.400 vezes. Em matéria de personagens, vê-se que não é seletivo. Ninguém é perfeito. Um dos adeptos da mania, o cronista Ricardo Freire, confessou: “O Google sabe tudo o que eu não sei e se lembra de todos os detalhes que me escapam no momento. Virei um googledependente.” Faço minhas suas palavras: “O Google (...) se transformou na minha biblioteca, no meu oráculo, na minha lista telefônica, na minha memória auxiliar.” Querendo flagrar uma lacuna (e deve haver muitas), corri lá para ver se já constava a palavra inventada pelo cronista no fim de semana. Em 0,04 segundo, o gúgal me respondeu à sua maneira: “Resultados 2 de 2 para googledependente”. As duas citações eram da revista Época.
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