Uma dúvida pairou sobre as cabeças dos astecas e maias durante milhares de anos. O mundo será destruído ao fim do ciclo venusiano de 52 anos? Ninguém jamais saberá como a questão principiou a habitar as mentes desses povos, o fato é que paralelamente ao temor surgiu o costume de sacrificar pessoas para aplacar a ira dos deuses. É difícil entender a relação de causa e efeito. Sabemos hoje, em parte em função dos trabalhos de Goebbels frente às comunicações do Terceiro Reich, que é possível criar uma realidade moldada às nossas conveniências. Uma mentira divulgada com convicção, acaba pela repetição, adquirindo características de verdade. Querem um exemplo? Vou criar 10 milhões de empregos. É difícil não lembrar dessa frase. O simples fato de perguntar como isso aconteceria me custou a amizade de alguns colegas "educadores". Fico pensando que a falta de flexibilidade e o apreço às tradições imutáveis acabaram por contribuir para o fim desses povos. Somado a isso temos de levar em conta a capacidade dos espanhóis e portugueses de matar. Usando apenas machados, lanças e espadas eles aniquilaram mais gente nos séculos XVI e XVII do que as guerras dos séculos XIX e XX, que usaram armas bem mais sofisticadas. Enfim, depois de mais de cinco séculos da chegada dos espanhóis e do fim dos sacrifícios humanos, o mundo não acabou após os ciclos venusianos que se seguiram. Nas montanhas andinas ainda existe entre os índios a tradição do temor do fim. Logo algum esperto dirá que serão necessários mais alguns ciclos para o evento ocorrer. Entretanto, caso ele receba uma pequena contribuição, poderá interceder junto aos deuses para impedir o apocalipse. E assim logo teremos mais um milionário viajando em jatinhos enquanto as pessoas trabalham para que ele faça a mediação junto às divindades. Fico pensando nos milhões de jovens estupidamente sacrificados no auge da existência para aplacar a ira de deuses que só existiam nas cabeças doentes dos sacerdotes andinos. O mundo sempre será dos espertos, até que o véu da ignorância seja removido dos olhos dos povos. É o caso de refletir. Será que algum governo gostaria que tal fato acontecesse?
Nota do Editor: Sidney Borges é jornalista e trabalhou na Rede Globo, Rede Record, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo (Suplemento Marinha Mercante) Revista Voar, Revista Ícaro etc. Atualmente colabora com: O Guaruçá, Correio do Litoral, Observatório da Imprensa e Caros Amigos (sites); Lojas Murray, Sidney Borges e Ubatuba Víbora (blogs).
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