Os inimigos da democracia utilizam-se das garantias do Estado de Direito para, sob a máscara de reivindicações legítimas, plantar as sementes da destruição dentro dos próprios sistemas democráticos. Sob a proteção da liberdade de expressão, tão cara a uma sociedade democrática, a prática da desinformação e a guerra ideológica trazem conseqüências nefastas para os que não desejam submeter-se ao jugo da servidão e da tirania. Diversos comentários sobre os resultados das recentes eleições na Palestina, onde a organização terrorista Hamas conseguiu a maioria das cadeiras no parlamento, ilustram bem a torção retórica utilizada pelos adversários das sociedades abertas. Quem quer que levante a voz para tecer críticas ao processo eleitoral palestino é imediatamente acusado de ser antidemocrático. Ora, em que espécie de sistema que se pretende minimamente democrático é possível que um grupo de assassinos sedentos de sangue possa chegar ao governo? Os fora-da-lei só alcançam o poder através do sufrágio onde não há precisão acerca do próprio escopo da lei. A democracia não se limita ao exercício do voto ou à realização de eleições. Na ausência de mecanismos que protejam os direitos das minorias e sem que esses direitos estejam suficientemente claros, o que se tem é, debaixo de uma roupagem democrática, um sistema demagógico de matiz totalitário. Uma característica que deve estar presente em uma democracia é justamente a limitação do poder governamental, algo totalmente incompatível com ambientes onde não há liberdade e os direitos individuais são pisoteados. Governos tirânicos utilizam-se da palavra "democracia" essencialmente por duas motivações: a primeira é respaldar-se na legitimidade praticamente inquestionável que o termo confere a um modo de organização política; a segunda, mais sutil, é contribuir para a difusão do erro conceitual que identifica "democracia" com "governo da maioria". Afinal de contas, Demos, em grego, significa "povo" - e o povo inclui as minorias. Outra maneira de minar as instituições democráticas de uma sociedade livre é através da invocação parcializada dos direitos humanos. Na segunda metade do século XX, a América Latina foi um dos palcos do embate conhecido como Guerra Fria. Basta fazer menção às operações realizadas no continente para frear a expansão de movimentos ligados ao comunismo soviético e cubano para que surjam imediatamente os clamores emocionados aos direitos humanos, que devem sempre valer para os assassinos a serviço da ideologia da morte, mas jamais para as suas vítimas. Ernesto "Che" Guevara, cuja efígie enfeita milhões de camisetas de adolescentes desinformados e de adultos perturbados pelo mundo afora, executou sem dó nem piedade centenas de prisioneiros em La Cabaña, após o triunfo da revolução cubana. Ele também praticava tortura psicológica, simulando execuções, e matou não somente inimigos comprovados, mas também indivíduos meramente suspeitos de serem opositores ao regime castrista. Para as vítimas desse carniceiro, não se mencionam os direitos humanos, que só vêm à baila quando se trata de fazer ativismo contra os Estados Unidos pelos prisioneiros que mantêm em sua base de Guantánamo. No Chile, são comuns as manifestações que, em nome dos direitos humanos, pedem justiça pelos desaparecidos durante o governo militar. Onde estavam os direitos humanos para as vítimas dos grupos extremistas que operavam no Chile, sob a anuência de Salvador Allende e dos dirigentes da Unidad Popular? Quem denuncia os crimes cometidos por partidários de Allende durante o período de seu governo é acusado de reinflamar paixões que é mais conveniente deixar no esquecimento. Entende-se disso tudo que os direitos humanos não existem para os que pereceram ou padeceram sob a violência proclamada e posta em prática por extremistas de esquerda que agiram no Chile, amparados pelo próprio poder Executivo. Hugo Chávez, presidente da Venezuela e "party boy" da América Latina em tempo integral, tem sido sistematicamente denunciado pela oposição venezuelana por diversas violações aos direitos humanos. Quase não há espaço na mídia para tais denúncias. É sabido que a Venezuela tornou-se, nos últimos anos, um baluarte para narcoterroristas que espalham morte e destruição em países vizinhos. Também é sabido que acusações de delitos de lesa humanidade, inclusive justiçamentos, que pesam sobre o Estado venezuelano, encontram toda espécie de obstáculos nas suas investigações. Os direitos humanos são uma tentativa de encontrar um denominador moral comum para a humanidade, pautando-se por princípios que deveriam ser válidos para todos os povos. Quando esses princípios são levantados para denunciar ações criminosas ligadas à esquerda, apela-se imediatamente a uma postura relativizante para justificá-las. Essa contradição é, na verdade, a perversão intrínseca ao discurso esquerdista, que coloca em xeque a própria estrutura das sociedades democráticas a partir de seu interior. Os fins parecem justificar os meios somente quando se trata dos objetivos proclamados pelos simpatizantes do socialismo. Sob o discurso da construção de uma sociedade mais justa, ou o "outro mundo possível" da utopística wallersteiniana, qualquer genocídio é perdoado e a prática de tortura é convenientemente descaracterizada como tal. Sob uma concepção teleológica da história, de inspiração marxista, a violência torna-se legítima já que, através dela, pode-se acelerar o processo histórico. O recurso à aniquilação massiva de seres humanos faz parte, portanto, dos mecanismos de ação dos regimes que têm a ambição de condenar toda a humanidade à escravidão física e espiritual. Naturalmente, os direitos humanos não valem para os mais de cem milhões de indivíduos que foram imolados no altar da insanidade socialista.
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