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SEÇÃO
Crônicas
13/02/2006 - 15h02
Sol, verão e ai de mim
L C S Penna
 

Manhã de um sol de verão que parece conjuminar todos os verões do mundo. Sentado em frente ao computador preparo-me para o trabalho diurno. Tento. Há outra pessoa na tela do monitor. Não consigo precisa-lo a forma. Diria que é um tanto bizarra. Mas, ela está lá. Algum espírito? Realidade virtual? Será que meus olhos míopes pregam peça em mim? Ou algum sacana?

Deixo o computador e procuro pelo autor da façanha. Não o encontro. Haveria tal autor se eu não estivesse sozinho, penso. É cedo pelo meu relógio biológico. Nada bebi. Nem em noites anteriores. Logo...

Volto ao computador. Dependendo de meu ângulo de visão tudo é normal. Normal? Se ficar de lado, contorcido e quiser um torcicolo pro resto do dia a tal figura não aparece. Posso até procurar uma posição em que o monitor esconda tal cara desconhecida. Posso. Não me aconselho. Picasso, se vivo, certamente me escolheria para um de seus quadros cubistas. Ao final do dia de trabalho sairia daqui para uma massagista – e das boas – para voltar ao meu normal.

Os entendidos dizem que devemos sentar em frente ao monitor estando ele à altura dos olhos e, se possível, seguir a ergonomia. Tento. A tal pessoa, ou melhor, seu rosto aparece. Como preciso trabalhar continuo o meu mister. Escrevo algumas palavras e elas teimam em não aparecer na tela. Contrariando as regras do bom uso do computador aproximo-me mais do monitor. O que pode ser um rosto desaparece e as palavras escritas surgem. E daí? Não posso tornar-me um quadro cubista e minha mãe sempre reclamava quando ficava assistindo televisão perto demais.

Cumpro de novo as regras do jogo. As palavras brincam de esconde-esconde comigo. Levanto-me e olho da janela a moça que passa. Soubesse ela que talvez haja um outro eu a espreitar também. Olho para a tela e lá estão de novo as palavras. Conforme mexo-me as palavras vão e voltam num balé involuntário. O sol atinge o CPU. Coloco um pedaço de papelão para fazer sombra e volto ao meu lugar.

Desta vez, apesar de minha miopia e de alguns enganos que ela sempre ocasiona, tenho certeza de me ver na telinha. Oi turma, olha eu aí! Não, não é a Globo. Preciso trabalhar. E como Fernando Pessoa o computador cria heterônimos de mim. Só que não me deixa ver as palavras escritas. E não quero ser um fingidor (o chefe quer trabalho, quer resultados) e muito menos sentir dor (e se ele me manda embora?). Nunca vai acreditar que existe um outro eu no computador. Seria eu o expulso não o outro eu de mim.

Uma ligeira lufada de vento e o papelão cai. O sol avança além do CPU. Agora é a impressora a compartilhar meu astro protetor. Saio de frente do computador e comigo meu outro eu. Arrumo um papelão maior e cubro a janela. Com ela o que me restava de ar, a luminosidade deste dia caduco de verão e a menina que não verei mais passar.

Apesar do lusco-fusco a tela mostra em sua plenitude todas as palavras que havia escrito. Ufa! Não há mais reflexo. Mas, como diria o Drummond, um pouco de mim ficou em algum lugar. Coberto por um papelão que um vento qualquer pode, em dia de sol, desnudar. A tela se desdobra em letras as quais tento dar sentido, enfim.

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