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Opinião
14/02/2006 - 09h09
Em Fevereiro... Tem Carnaval!
Ubiratan Iorio - Parlata
 

Embora não tendo Fusca, violão nem nega chamada Teresa e muito menos sendo Flamengo, já que tenho um Ford, um piano, minha esposa é loura e sou tricolor de coração há cinco mil anos, a sensacional canção de Jorge Ben-Jor tem algo de comum comigo, por uma simples razão: também sou carioca, como o talentoso compositor popular e, portanto, brasileiro! E, "neste país" do presidente que se orgulha de ser apedeuta e de fazer a apologia da falta de cultura, em fevereiro tem carnaval, o que importa, para quem conhece a alma de nosso povo, que nada mais importa...

Em ano de eleições, com o governo envolto nas brumas de uma crise ética sem precedentes, nada como o carnaval e uma Copa do Mundo para fazer o povo esquecer as denúncias, que perdem importância diante da transcendental relevância das escolas de samba, dos trios elétricos, das praias lotadas, da cerveja, das modelos despidas de roupas e de vergonha, da escalação e dos jogos da Seleção. A emissora que detém o inaceitável monopólio da transmissão dos dois eventos, aliada aberta deste governo (aliás, como costuma ser de qualquer governo,) entre um e outro encômio subliminar a Lula em seus telejornais, mostra insistentemente, embora sem escapar ao seu estilo perfunctório, os enredos, as rainhas de bateria, os sambas - que mais parecem marchas - de hoje em dia e outros pormenores daquele que já foi um evento popular espontâneo desde os tempos de Chiquinha Gonzaga, bem como flashes da Alemanha, já que ambos os acontecimentos precisam, nestes tempos de crise ética, mais do que nunca, agigantarem-se, para que - panes et circenses! - a massa de eleitores, muitos sem condições para comprar fuscas e violões, possa esquecer-se de que foi ludibriada, escondendo sua esperança traída na ilusão da riqueza e do luxo das fantasias e na emoção dos nossos gols. E tome barracão de escola, e tome notícias sobre a Alemanha, entre uma e outra chamada do Big Brother e das novelas em que as trocas de casais forçam famílias a trocas de canais...

Se no carnaval a ilusão é no asfalto, na Copa é nos gramados, em que os dribles do Ronaldinho Gaúcho prevalecerão sobre os cortes do mensalão em nossos bolsos, as "pedaladas" do Robinho sobrepujarão as punhaladas do acordão e os berros do locutor oficial soarão mais fortes do que os gritos de revolta dos cidadãos conscientes, maltratados por um Estado perdulário, estróina, viciado, pesado, arrogante e vigarista! Se ganharmos o hexa, já podemos até ver o presidente em Brasília, orlado pelos jogadores e membros da nossa delegação, a levantar a taça, de preferência falando alguma sandice e perto de algum corintiano... Entre os dois eventos, a Semana Santa, que o ambiente predominante de relativismo moral tenta transformar em um reles feriadão, algo impensável para os que insistem em alimentar uma fé massacrada intermitentemente pelos meios de comunicação a serviço do "Outro Mundo Possível"...

Bem, depois da Copa da Alemanha, ganhando ou perdendo, estaremos a apenas dois meses das eleições e bastarão mentiras e promessas infundadas e tudo estará resolvido, porque somos uma população de desmemoriados e qualquer problema imprevisto, o instituto de pesquisas semi-oficial estará aí mesmo para resolver...

Nosso povo tem índole boa, mas carece de um sentimento nacional efetivo, salvo nos jogos da seleção "canarinho", o que não o faz cobrar do Estado, dos seus três poderes, das suas três esferas, das suas estatais, da sua polícia e da própria mídia as providências que todas as pessoas de bem e com um mínimo de conhecimentos gerais sabem bem quais são. É fácil adivinhar que nada se dirá sobre a reforma política básica para todas as outras e sem as quais continuaremos a dar voltas em círculos, bem como sobre programas efetivos de governo.

Não sou "contra" o carnaval quando é espontâneo e gosto demais de futebol, praia e música, seja uma ópera de Verdi, uma sinfonia de Mahler ou um bom samba. Mas sinto-me duplamente prejudicado, como carioca e como brasileiro, com esse desvio deliberado de prioridades, em que as dificuldades do país são minimizadas, algo que só iremos compreender quando fizermos da educação prioridade nacional. Mas um povo sem educação carece de linguagem, de cultura e é facilmente manipulável, para atender aos interesses de poucos. Este é o ponto!


Nota do Editor: Ubiratan Iorio é doutor em Economia pela EPGE/FGV. É Diretor da Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ e Vice-Presidente do Centro Interdisciplinar de Ética e Economia Personalista (CIEEP), Professor Adjunto do Departamento de Análise Econômica da FCE/UERJ, do Mestrado do IBMEC, Fundação Getulio Vargas e da PUC/RJ. É escritor com dezenas de artigos publicados em jornais e revistas.

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