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Crônicas
15/02/2006 - 11h06
Sonhar não é proibido
Moacyr Scliar - Agência Carta Maior
 

Caminhar é bom por dois motivos. Em primeiro lugar, trata-se de exercício físico, um antídoto contra o sedentarismo que nos ameaça a todos nesta era de telas - tela da tevê, tela do computador. Em segundo lugar, caminhar coloca-nos em contato com a realidade das ruas, das praças, dos lugares públicos. Uma realidade que, convenhamos, nem sempre é agradável, mas que não podemos nos dar ao luxo de ignorar.

Caminhando, cada um tem seus trajetos preferidos. O meu leva-me pela Protásio Alves e Osvaldo Aranha, o Bom Fim de minha infância, até o parque Farroupilha, onde sempre espero encontrar o casal Ostermann. Mas há um outro casal que me chama a atenção e que deve ser bem conhecido daqueles que andam pela Protásio Alves.

Eles são os típicos sem-teto, uma mulher e um homem já de certa idade, esfarrapados e maltratados pela vida. Carregam suas poucas coisas no clássico carrinho de supermercado que, aliás, é o único ponto comum entre a sociedade de consumo e a marginália. Ficam sentados, conversam, brigam entre si, pedem esmolas. Mas, no domingo passado, eu os vi entregues a uma atividade completamente diferente.

Os dois estavam diante da vitrine de uma loja de luminárias e conversavam sobre o que estava ali exposto, abajures, lustres. Eu preferia aquele ali, dizia o homem, apontando. Nada disso, retrucava a mulher com desprezo, é enfeitadinho demais, por mim eu ficava com aquele lá do fundo.

Nesse momento, eu me dei conta do que eles estavam fazendo. Estavam decorando, em imaginação, a casa que nunca tiveram e que provavelmente nunca terão. Mas a esta tarefa impossível eles se entregavam com dedicação, com prazer, com paixão mesmo.

Sonhar é uma coisa que está ao alcance de todos, mesmo de um casal de sem-tetos vagando pela avenida de uma grande cidade. Por um momento as pobres criaturas tinham saído da rua; por um momento, estavam morando em um apartamento confortável, cheio de lustres e abajures (e nem sequer se preocupavam com a conta da luz). Por um momento, estavam sentindo-se pessoas da classe média, aquelas mesmas pessoas que, num domingo de manhã, caminham pela Protásio Alves.

Sonhar faz bem. Aliás, é por isso que sentamos diante da tela de um cinema, ou diante da tevê vendo a novela. É por isso que ficamos diante da vitrine de uma loja, seja esta de eletrodomésticos, de roupas, de calçados ou de luminárias. Ah, sim: e é por isso, também, que existe ficção, uma espécie de abajur que ilumina alguns momentos de nossa vida.

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