Apesar de exercerem a mesma função quando transplantadas, as células-tronco da medula óssea e do cordão umbilical apresentam particularidades. Estudo recebeu o terceiro lugar no Prêmio Jovem Cientista
Apesar de relativamente sutis, as diferenças entre as células-tronco hematopoiéticas (produtoras de células sangüíneas) da medula óssea e do cordão umbilical podem representar novas possibilidades de tratamento em casos de transplante. Com o objetivo de analisar e "mapear" as causas dessas diferenças, o biólogo e doutorando da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, Rodrigo Alexandre Panepucci pesquisou cerca de dez mil genes presentes nessas células. O estudo rendeu ao pesquisador o terceiro lugar na 21ª edição do Prêmio Jovem Cientista - Categoria Graduado. As células-tronco presentes na medula óssea e no sangue do cordão umbilical exercem a mesma função quando transplantadas: produzir células sangüíneas e novas células-tronco. Entretanto, existem algumas diferenças - por exemplo, as células do sangue do cordão umbilical se renovam com maior eficiência do que as da medula óssea, e esta tende a produzir mais, e com maior rapidez, células diferenciadas (células sangüíneas). Além disso, a chance de rejeição imunológica é menor quando se utilizam células do sangue do cordão umbilical (mesmo quando a compatibilidade não é muito grande) do que quando é usada a medula óssea. "A importância da pesquisa está no auxílio a estudos futuros", afirma Panepucci. Ao identificar e analisar os genes responsáveis pelas diferenças entre as células-tronco, o pesquisador criou um "mapa" das particularidades dessas células. Entre as possíveis e futuras aplicações práticas está a possibilidade de se "manipular" esses genes para deixar as células-tronco do cordão umbilical mais "parecidas" com as da medula e vice-versa, dependendo das necessidades do paciente. Mas para se chegar a isso, ressalva Panepucci, ainda são necessárias muitas pesquisas. Técnica Para identificar o grupo de genes responsáveis pelas diferenças entre as células-tronco, o biólogo analisou seu RNA-mensageiro, espécie de molécula intermediária entre o gene e a proteína produzida por ele. O que diferencia uma célula da outra, num mesmo organismo, é a ativação ou não de certos genes. E essa ativação, que pode ocorrer em graus variados, implica na produção de determinada proteína. Assim, para identificar as diferenças, o pesquisador analisou quais genes eram mais ou menos ativos nas células pesquisadas. Entre os dez mil genes mais expressos nas células, o pesquisador encontrou um grupo de cerca de 400 responsáveis pelas diferenças entre elas. "O mais interessante é que a maior parte das diferenças resultam da ação de um fator de transcrição, que pode ativar muitos outros genes", diz. Dessa forma, a ativação de um único gene também leva à ativação de muitos outros. Numa aplicação prática, pode-se tentar controlar o fator de transcrição e, assim, o grau de ativação de vários genes ao mesmo tempo. Células-tronco mesenquimais Panepucci também pesquisou os genes das chamadas células-tronco mesenquimais, que têm potencial de se diferenciar em outros tipos de tecido (cartilaginoso, ósseo, adiposo). Na medula óssea, elas formam o estroma, tecido semelhante a uma esponja; no cordão umbilical, elas fazem parte da parede das veias. "Basicamente, essas células são muito semelhantes no cordão e na medula. Há um grupo pequeno de genes que são diferentes e se relacionam com o papel dessas células - na medula óssea, a produção do estroma; no cordão umbilical, a produção de veias", explica o biólogo. A pesquisa com células-tronco mesenquimais resultou em dois artigos, publicados na revista norte-americana Stem-Cell - o primeiro em 2003 e o segundo em 2004.
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