Tem gente que, na primeira ou segunda paulada na moleira, passa a reclamar da vida, das injustiças que recebe, da falta de sorte, de desamparo e coisa e tal. Acredita que é o último dos mortais, esquecido por Deus (quando imagina ter fé), família, amigos e que há uma trama contra ele. Mergulha em um alheamento e, não raro, fica deprimido, sorumbático e macambúzio. Esquece que as moleiras são fechadas na infância e ser humano é bicho de cabeça dura. Não importa quantos anos tenhamos. Não importa que nos digam que é assim mesmo. Não importa que a gente saiba que poderia ter tido um pouco mais de cuidado, atenção, tenacidade, simplicidade e lutado mais. Na hora do insucesso, não há consolo. É quase o fim do mundo. Quase. É preciso que se assimile o insucesso e isso leva um tempo. O tempo é relativo, não é absoluto. E cada um tem o seu próprio tempo. Os insucessos, se bem assimilados, mastigados, digeridos, podem ser uma grande fonte de aprendizado. Eles podem tornar-nos mais lúcidos, atentos e vigilantes com os nossos sonhos e realidades. Nada de se associar aos que consideram um insucesso o tal do fim do mundo. Ele não o é. Ele é didático, sábio e presta-se para que descubramos a que viemos, as companhias que escolhemos, como estamos traçando os nossos caminhos, e se há jeito de mudá-los. Sempre há. Eles podem ter o condão de nos tornar mais humildes, menos vaidosos e mais comuns. Gente. Os insucessos são feitos para mostrar que a vida povoa desencontros, topadas, tempo jogado fora com bobagens, a crueza dos espelhos que teimam em nos mandar recados e não escutamos. Enfim, o insucesso pode até ser uma conquista, se dele tirarmos lições, não estas bobas e óbvias que estão aqui listadas, mas as resgatadas da purgação das dores, da nossa história de vida, seja ela breve ou longa. Tem também aquela historinha manjada do cara que estava perdido numa ilha e conseguiu com muito esforço fazer uma choupana. A choupana pegou fogo. Ele reclamou de Deus e se considerou derrotado. Um navio viu a fumaça do fogo e o salvou. Pois é. Insucessos podem também servir para mostrar que nunca estamos sós. Há amigos, sim. Mesmo que poucos ou que não nos façam festas, não endossem os nossos erros e critiquem atitudes. Amigo é bicho esquisito, tão esquisito quanto nós.
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