Digam o que for e o que bem quiserem, mas duvidar do consenso cego da maioria é fundamental. Indispensável para o bom desenvolvimento de nosso intelecto é questionar o olhar abestalhado das massas bestificadas com a sua (in)sapiente desinformação. A grande maioria da população desta terra pouco lê ou nada folheiam, entretanto, por incrível que pareça, tem sempre à mão uma suposta boa resposta para toda e qualquer indagação. Temos o vício da emissão de opiniões sem ao menos um dia termos cultivado o hábito salutar de nos informar com a devida decência. Somos falantes, pedantemente eloqüentes com nossas palavras vagas e sem sentido, por termos cultivado em nosso íntimo um misto de desídia em um caminhar contínuo com a descontínua leviandade coletiva. Neste momento da história desventurada da humanidade, faz-se mais necessário do que nunca dizer não ao consenso impensado, negar a burrice acordada como sendo douta, douta ignorância de uma massa incauta, conformada, sedenta apenas por um cadinho de sol junto as Potestades das Trevas e nada mais. Estas palavras mal escritas podem até ser duras e ríspidas, entretanto, de modo algum são irreais. É o que somos e talvez alguma quirerinha a mais. Tememos contrariar os nossos pares, por temermos em demasia a solidão. Tememos a incompreensão dos outros e, por essa razão acabamos muitas das vezes por optar pela nossa própria incompreensão, abdicando de nossa razão em nome da aceitação estúpida da maioria. Tememos a solidão e por isso, nos fazemos infelizes, pois infeliz é a alma que não à aceita com gratidão, como nos ensinava Pascal e por isso, nos tornamos uma civilização de órfãos de si mesmos, perdidos, por não conhecermos a nós mesmo, preferindo seguir a correnteza da unanimidade e firmemente optando pelo abismo existencial cultivado pela nossa covarde vileza de cortesão. Negar a bestialização coletiva é o grande desafio apresentado a cada um de nós das mais variadas maneiras. Desafiar os senhores do marasmo, da ignorância, dos apedautas, eis a grande e boa luta que devemos travar para assim, carregar no peito e na alma a chaga da singularidade humana, que nada mais é que a coragem e a ousadia de pensar e expressar o pensado, justamente nos momentos em que ninguém mais o faz, como, aliás, agora se faz.
Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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