Em artigo publicado na revista Veja, o economista Cláudio de Moura Castro fala com propriedade sobre o excesso de decibéis no dia-a-dia do brasileiro, tece comparações com a Suíça, onde viveu nos últimos anos e chega a se perguntar: "Por que ignorar os males que o barulho excessivo faz à saúde? Será que o baixo crescimento da economia não seria o resultado do excesso de barulho?". Moura Castro fala sobretudo da Suíça, "onde em muitos edifícios é proibido tomar banho e puxar a descarga após as 10 horas da noite". Onde "os ônibus são silenciosos, e aviões barulhentos não pousam lá. Os cachorros não latem, e as crianças não berram. Onde é proibido cortar grama aos domingos, por causa do barulho das máquinas". E prossegue: "Aqui estou, depositado no país dos decibéis. Ônibus e caminhões urram dentro da lei dos 88 decibéis máximos, quando na Europa a norma é 74 (sendo a escala de decibéis logarítmica, o volume de som é muitas vezes maior!)". O articulista fala também do ruído excessivo nas salas de aula, comparado aos níveis recomendados pela OMS - Organização Mundial de Saúde, que é de 35 a 45 decibéis, sendo largamente ultrapassado, com níveis entre 78 a 92 decibéis, conforme estudo feito pela Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo. Durante o intervalo das aulas o barulho é tanto que chega aos 110 decibéis, índice que, após meia hora de exposição, começa a oferecer riscos à saúde. Em escolas, aeroportos, saguões de edifícios e em prédios da administração pública de maneira geral, os administradores ainda encaram os pisos "frios" como a solução mais adequada, o que contrasta com países como os Estados Unidos, o Canadá, o Japão, a Suíça, a Inglaterra, a Suécia e a quase totalidade dos países da Europa, onde o tratamento acústico é considerado prioritário, cuidando-se de revestir forros, paredes e pisos com materiais que impeçam a propagação do som, como carpetes e forros acústicos. E, nos casos de construções feitas pelo sistema steel frame, de rechear as placas divisórias de dry wall com lã de vidro para absorver ruídos. É consenso entre as pessoas que é excessivo o ruído nas ruas, nos aeroportos, nos hospitais, nas escolas, em prédios do governo. E também nas residências, seja em casas ou em apartamentos, de vez que as construtoras se esmeram em oferecer "áreas de lazer", deixando de dotar de proteção acústica tetos, pisos e paredes. Sem chegarmos ao exagero de proibir banhos e puxar a descarga após as 10 horas da noite, é possível diminuir em muito o excesso de barulho em nossos lares. Mais placas acústicas no teto e mais carpetes no chão representam um bom começo para nos proteger dos males do barulho excessivo, que pode provocar vertigens, danos à audição, insônia, alterar o ritmo cardíaco e reduzir a produtividade física e mental. Paralelamente a essas medidas, é indispensável que o poder público fiscalize com maior rigor o uso de desentupidores de bocas-de-lobo, as serras de poda de árvores, os britadores, os bate-estacas e outros aparelhos de alta poluição sonora, impondo-lhes limites de volume de decibéis e restrições de horário de uso. Talvez aí deixemos de ser chamados de "o país dos decibéis", sem falar que, de repente, o baixo crescimento da economia pode mesmo ser o resultado do excesso de barulho. Afinal, essa dúvida foi levantada por ninguém menos que um internacionalmente respeitado economista - Cláudio de Moura Castro. Nota do Editor: Luís J. Ayllón é vice-presidente da Interface para a América Latina.
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