Isto aconteceu nos meus onze de idade, durante o carnaval de 1960. Enfiei na cabeça que queria sair de diabo naquele ano e enchi o saco do meu pai para comprar-me a fantasia. A grana andava curta lá em casa, mas não me decepcionou o generoso pernambucano. Meio a contragosto, deu lá o seu jeito, como sempre. Assim que botei o pé na rua, o filho da vizinha, ali perto, começou a espremer-se contra a parede, branco de pavor. Eu exultava de felicidade. "Que é isso, meu filho, é só uma máscara...", dizia a mãe dele, preocupada. Piscou-me um olho divertido, cheio de cumplicidade, e disse em tom de súplica: "O moço vai tirar a máscara, não vai?" Tirei. Foi pior. O garoto abriu um berreiro medonho e só sossegou quando botei a máscara de novo. No dia, bateu forte. Mas hoje, revendo um velho álbum de família, dou plena razão ao pirralho. Agora entendo por que meu pai achava aquela despesa inútil.
|