Nada muda. As vezes, é a gente que se confunde. Nada como engolir Jagger e Bono falando aquele sotaque com traços de português e ter certeza que “Oh! Você por aqui novamente?” foi feita para a mãe de Lucas. E a pesquisa eleitoral? Os tucanos mereceram. A “Folha” e as aves de maior plumagem estão tendo que engolir uma Pearl Harbour daquelas, sem direito à Midway. E na Indústria Cultural, heim? “Veja” gasta linhas inventando uma história de falha na pesquisa de uma livraria para justificar a agressão moral contra o autor de um best-seller! O conflito é visível e sensível. Fazer o quê?

Eu resolvi botar cabeça e consciência em dia com meu projeto, estudos, cachorros peludos, leitura (quando possível), etc. nesse carnaval. Para ajudar ainda mais, a revista que eu assino chegou no final da tarde de sexta.

Comecei pela leitura. O que me atraiu realmente em a “Miscelânea Original de Schott” (Ben Schott - Intrínseca 2005) foi a encadernação e a capa. Ao folhear, dei de cara com a citação de Lord Balfour na qual ele assinala que “a boa leitura só fica completa quando se aprende a arte de folhear e pular trechos”, os doze trabalhos de Hércules, o domínio de Mianmar na Internet e muitas outras respostas sobre coisas que nunca me interessaram assim de imediato. Peguei, comprei, cheguei em casa e li ele todinho de uma sentada só. Achei bem mais emocionante que “O Livro dos porquê”, referência básica do início da minha adolescência. Quem teve um “Tesouro da Juventude” por perto sabe do que eu estou falando.

A “Miscelânea Original” é um livro de consulta que vai mostrar a você como é vã a pretensão de alguém em se tornar um luminar da cultura inútil. Na minha visão da crítica literária, acredito que Schott, no porre que tomou para escrever aquilo, queria, na verdade, redigir um livro de referência para o programador de problemas de palavras cruzadas. Inclusive, existem nele vários glossários de referências e significados, bem apropriados para aqueles que não sabem fazer com os sete espaços verticais que estão sobrando sem soluções. Em certos momentos, fui remetido a essência de H. P. Lovecraft e suas anotações sobre chuva de rãs na Malásia e Elefantes drogados e violentos no interior da Índia.

Outra impressão? Já imaginaram uma enciclopédia de variedades produzida por Jorge Mautner? Pois bem: o resultado desejado por Schott me impressiona é por aí. Vi, em “A Miscelânea Original” que a Rádio Relógio Federal do Rio de Janeiro não falou em vão em 35 anos de “Você... Sabia?”. Para completar o total delírio, só faltaram gravações de gols narrados por Orlando Batista - O mais laureado Locutor Esportivo!

Vale a pena se divertir um pouco com a “Miscelânea Original”. É um livro sem meios termos. Ou se lê a miscelânea em doses homeopáticas ou então em invernadas overdósicas, como aconteceu comigo. Comece a usar a Miscelânea como garrafada mental e exorcize todos os seus baixos níveis de alto astral. A “Miscelânea Original de Schott” vai te fazer ficar de bem com a vida por algum tempo. Depois de lê-lo, você vai até se considerar mais produtivo que o autor. Melhor auto-ajuda do que essa, impossível.

Nota do Editor: Luiz Sergio Lindenberg Nacinovic é jornalista.