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Opinião
03/03/2006 - 07h02
Trogloditas corporativos
Luciano Pires
 

Décio, um leitor antigo, me escreve desconsolado. Não agüenta mais o ambiente de trabalho. Tem 28 anos, um espírito criativo e uma inquietação próprios de pessoas que gostam de fazer acontecer. Quando saiu da universidade tinha planos de tornar-se executivo de uma grande empresa, o que acabou conseguindo. Trabalha numa multinacional de serviços. Cresceu praticamente do zero, pois começou na empresa sete anos atrás, como estagiário. E aprendeu e realizou muito, até atingir o cargo de gerente, quando os problemas começaram.

Repentinamente viu-se retirado de um grupo de pessoas que passa o dia fazendo acontecer e foi transferido para outro grupo, o das chefias. Onde fazer política é mais importante que fazer acontecer.

E do dia para a noite, ele que era um funcionário badalado e sempre motivado pelos chefes, viu-se jogado num mundo onde a lógica, a motivação e o "pensar pelo bem de todos" perdeu o sentido.

Décio repentinamente descobriu que estava lidando com um tipo de gente diferente, os que não fazem e não deixam fazer.

Suas argumentações técnicas deixaram de ter sentido diante do "sempre foi assim", "não se aplica ao nosso negócio", "para o bem dos acionistas" e outras frases prontas destinadas a torpedear qualquer idéia ou projeto que intimide os que preferem a zona do conforto.

Numa das reuniões, Décio viu-se aos brados com um diretor comercial que não queria a implementação de um projeto que ajudaria a área comercial. O argumento era um "isso não serve" vazio, apoiado no "achismo"...

Décio não demorou a transformar sua irritação em desilusão. Sua idéia havia sido bombardeada não pelos méritos técnicos ou incapacidade de inovar e trazer benefícios para a empresa, mas pelos interesses políticos que ela ameaçava. Era uma excelente idéia, mas vinha de "outro". Portanto, não era possível "deixar fazer".

Pois a situação do Décio é muito mais comum do que ele, eu ou você imaginamos. Eu topo todo o tempo com gente que "não faz e não deixa fazer". São "trogloditas corporativos", os piores males que qualquer empresa pode ter. São inimigos internos, gente que aparentemente está imbuída das melhores intenções mas, no fundo, apenas luta pela manutenção de suas posições de poder. Para essa gente, qualquer idéia vinda de outra área é uma ameaça que precisa ser destruída. Afinal, pode dar certo e projetar o autor a um nível igual ou superior ao do ameaçado. É o jogo político corporativo, a verdadeira razão da maioria dos problemas que afligem as empresas.

Tem gente que diz que é ego. Outros dizem que é incompetência. Tem quem jure que é saudável e necessário.

Pois eu acho burro. Mas compreendo que esse jogo deve ter se iniciado dentro de uma caverna, milhares de anos atrás.

O mundo evoluiu, mas os trogloditas corporativos continuam sua missão de não fazer e não deixar fazer.

Pobre Décio.


Nota do Editor: Luciano Pires é jornalista, escritor, conferencista e cartunista.

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