A política é uma equação cujo resultado, na melhor das hipóteses, dá zero. Os bons políticos trabalham para conter as idiotices dos maus políticos. Raramente conseguem, e assim os esforços se anulam. Perdem-se dinheiro público e tempo preciosos em comissões e discussões intermináveis que resultam em leis ou ações de qualidade e utilidade duvidosas. Você ainda crê que a política pode trazer algo de bom para a sociedade? Esqueça. Uma das poucas coisas boas que podemos esperar dos políticos é o silêncio. Embora às vezes me incomode ver uma câmara municipal interessada em moções e nomes de ruas, no fundo seria bom se vereadores se concentrassem apenas nessas tarefas café-com-leite e deixassem a população se entender com especialistas a respeito dos assuntos realmente importantes para o município. Seria ótimo se cada político cuidasse somente daquilo que sua capacidade permite cuidar e se os políticos incapazes reconhecessem sua incapacidade e decidissem estudar, como qualquer pessoa normal faria. A realidade, afinal, não está num plenário ou num gabinete, mas lá fora, no dia-a-dia das pessoas, na dramática obrigação de pagar impostos e de respeitar uma autoridade cujo maior mérito é conquistar votos. O incômodo de ver no topo uma pessoa incapaz não é inveja, mas tristeza e consternação: eu não quero estar lá, quero apenas que quem está lá cuide bem do dinheiro que eu lhe dou e do lugar em que eu vivo, já que são estas suas obrigações. É especialmente interessante pensar nessas idéias num ano que poderá trazer grandes mudanças para Ilhabela. Não que as mudanças sejam interessantes em si, mas numa cidade em que as questões fundamentais são postas em segundo plano, a diversidade de pontos de vista e algumas guinadas na condução do município não fariam mal algum. Se alguém tiver algo novo a dizer sobre a decadência das praias ilhabelenses, o impacto do turismo sobre a cidade e o aumento exponencial da criminalidade, por favor diga logo. Não é muito adequado fazer críticas sem fazer autocrítica, principalmente quando meu alvo é um tipo de pessoa que foi eleita pelo voto direto, isto é, com aval popular. Somos tão responsáveis quanto eles, os políticos. O ponto de partida de minha autocrítica é a pergunta "O que posso fazer?". Quando desconheço o assunto de que trato, busco informações com pessoas mais capacitadas e experientes. Não deixo de emitir opiniões, mas tenho consciência de que o que as valida não são os aplausos que recebe, mas o tempo que elas foram deixadas de molho e tratadas com severidade. Só assim é possível criticar os políticos sem cometer o mesmo erro que eles cometem: levar-se a sério demais sem fazer um exame minucioso de suas idéias maravilhosas. Se eu fosse um político, ficaria envergonhado de ter idéias a granel. Políticos não precisam ter idéias. Basta sair à rua, conversar com as pessoas, observar a cidade e compreendê-la. Qual político faz isso totalmente isento de pretensões populistas, não para ficar bem na foto, mas para de fato trabalhar pelo bem comum e cumprir sua obrigação?
Nota do Editor: Christian Rocha vive em Ilhabela, é arquiteto por formação, aikidoka por paixão e escritor por vocação. Seu "saite" é o Christian Rocha.
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