Gostaria muitíssimo de falar algo em relação ao Dia Internacional da Mulher. Mas sempre se corre o risco da incompreensão, inclusive, sobre a necessidade e o imperialismo desse dia que, de certa forma, reforça um sentimento de fragilidade. Eu poderia fazer o discurso tradicional sobre as mudanças da vida da mulher nas últimas décadas. Quer pelo advento da pílula anticoncepcional, que facilitou à mulher o exercício da sua sexualidade com mais liberdade; quer pelas facilidades da emancipação cultural da mulher pelo crescente número de escolas de Ensino Médio e Superior; quer pela nova compreensão dos pais e familiares a respeito do potencial intelectual feminino, muito além dos romances melados ou da aptidão culinária. Poderia também ressaltar o crescimento da tomada de postos de liderança e executivos pelas mulheres... tudo isso conseguido com muita luta, esforço e sabedoria; apesar do pouco tempo que essas mudanças levaram para se concretizar. Isto é, levando-se em conta que nos últimos 50 anos os ganhos e transformações foram de tal ordem que antes, com certeza, levariam séculos. Essa luta foi muito grande, pois tudo o que se associava ao feminino era considerado menor e descartável. Tanto é que no início desse movimento as mulheres reagiram com muita violência, proporcional à repressão secular, o que era compreensível no contexto da época. Pois se acreditava e realmente se considerava que o grande inimigo e algoz da mulher era o homem. Quanta mentira! Grande engano! Com certeza ele, o homem, acabava sendo uma grande vítima dessa mulher fragilizada, impotente por falta de espaço e de uso, porque o peso da cobrança sobre os ombros masculinos era enorme. Homens e mulheres eram vítimas passivas de uma ordem social, familiar e religiosa com padrões ultrapassados. Pura ilusão de que o equilíbrio era a mulherzinha frágil e o homem forte. Ilusão maior é pensar que apenas tomando contato com esse discurso linear e resumido podemos passar a limpo uma história do feminino, da sexualidade feminina e ficar satisfeitas. Posso me dedicar a escrever sobre inúmeros aspectos dessa transformação que ainda não foram integrados à sociedade com a convicção de que muita coisa não será dita quer na família, na profissão ou na igualdade sexual. Nesse contexto, acredito que o Dia Internacional da Mulher tem uma importância bem específica. Não falo de desagravo, não falo em comemoração, mas creio que o espaço para a reflexão deve ser marcado e aproveitado. A cada dia que nasce temos uma nova chance, pois o futuro começa hoje e não devemos deixá-la passar em análises conceituais. E sim aproveitando para efetivamente costurar a vida, às vezes com tecido novo e colorido, outras remendando velhos retalhos. Mas sempre conseguindo o efeito belo e colorido da brincadeira, da leveza e do sorriso da alma que tão facilmente brotam dos lábios das mulheres. E se não acontece, vale aqui um pedido ou uma sugestão... sorria, cante, dance, exercite a graça da bailarina que com certeza está aprisionada dentro de toda mulher. Às vezes achamos que é impossível fazê-lo. É nesse momento que devemos comemorar a mulher de uma maneira bem feminina, pois só ela tem mãos capazes de desenrolar o novelo, desfazendo os nós com facilidade. Com um olhar realista para as perdas é hora de ativar o desejo e desfrutar de um projeto de vida pessoal que utilize a excelência da própria experiência num viver criativo e prazeroso. Ser mulher inteira e a cada dia se reconhecer e validar. Hoje gozo, amanhã choro, acerto e erro tendo coragem e medo. Feliz Dia Internacional da Mulher! Nota do Editor: Márcia Atik é psicóloga, conferencista, especialista em Sexualidade, Transtornos Alimentares e Doenças Psicossomáticas.
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