A propaganda antitabagista nos maços de cigarros é assustadora, puro terrorismo. Entrevistando pessoas que não conseguem largar o vício, pude perceber que muitas se sentem amedrontadas por essas imagens, cheias de culpa, mais à beira da depressão do que do enfisema pulmonar. Outras relatam pesadelos terríveis durante a noite ou a sensação de estarem cometendo um crime hediondo ao acender um cigarro na rua, à vista dos transeuntes. Isso quando não topam com grandes torturadores disfarçados de benfeitores da humanidade, que desejam o bem do próximo com raiva, com muita raiva. Curioso é que um sem-número de usuários de tabaco - não é assim que já começamos a ouvir? - gosta de reportagens civilizadas sobre os males do fumo e considera oportunas campanhas antitabagistas promovidas por médicos conscienciosos e/ou profissionais de outras áreas que acreditam em programas de persuasão honesta, sem esculhambação moral. Na verdade, a turma da fumaça tem acatado com alguma tranqüilidade as restrições de toda ordem que se abateram sobre ela nos últimos anos, e são muito poucos os que tentam burlar a proibição de fumar em recintos públicos fechados. Ainda ontem, na minha frente, um homem que fumava no saguão de um cinema foi educadamente advertido por um funcionário, que, além disso, animou-o a terminar sem problemas o seu cigarro. Por outro lado, tenho amigos que abandonaram o vício devido aos longos intervalos de abstinência exigidos pela função que desempenham nesta ou naquela empresa. Um belo dia, tinham esquecido que fumavam. No fundo, acho que o pessoal do terror contra os fumantes não fica muito longe, em termos de princípios, daqueles que defendem políticas de limpeza étnica por esse mundo afora.
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