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Opinião
12/03/2006 - 15h02
O fim da notícia
Pablo Uchoa
 

Na prateleira, parece um livrinho despretensioso. A edição brasileira, então, cabe no bolso do paletó. Mas quando foi lançado aqui na França, em 1997, "Os novos cães de guarda" foi motor de muita polêmica.

Uma edição atualizada, recém-lançada, atesta o vigor da obra, que de saída vendeu 200 mil exemplares - sem que seu autor, o jornalista Serge Halimi, recebesse uma só menção na imprensa. Nem mesmo no Le Monde Diplomatique, o jornal para o qual Halimi trabalhava na época.

A mídia francesa não gostou da verdade simples, mas incômoda, que o livro contém: se existe no mundo um sistema econômico que garanta que todos são iguais, mas alguns mais iguais que outros, a imprensa é guardiã dele. "Dominada por um jornalismo de reverência, por grupos industriais e financeiros, por um pensamento de mercado e por redes de conveniência", escreve Halimi, "a imprensa francesa se diz contra-poder, mas é na verdade o novo cão de guarda de nosso sistema econômico".

Há muito de absoluto na verdade propagada por Halimi. A relação inescrupulosa de alguns setores da imprensa brasileira com o presidente venezuelano Hugo Chávez me convence cada vez mais disto.

Matérias ruins, superficiais, sobre a Venezuela e seu processo político nunca foram novidade - pelo contrário, a má vontade explícita dos grandes grupos de comunicação em relação a Chávez sempre foi regra.

O problema é que a pendenga está virando coisa séria. Redações importantes acenderam o alarme vermelho para o presidente venezuelano. Nesses casos, nada mais é publicado sobre o país sem a aprovação prévia das instâncias superiores. Isto significa que, para alguns veículos brasileiros, nada que acontece na Venezuela é notícia. Tudo é opinião.

Os profissionais do mercado sabem que redações são estas. Já o leitor comum precisa apenas passar os olhos por uma banca de revista e notar o tom cada vez mais belicoso, confrontativo, afrontador, que as matérias têm destilado a Chávez.

Quem já teve a curiosidade de acessar algum jornal venezuelano pela Internet sabe que, ali, a imprensa há muito tempo deixou de dar notícia e virou partido de oposição. A imprensa venezuelana de oposição (desculpem o pleonasmo) foi pilar do golpe de Estado que tirou do poder o presidente Chávez por 47 horas.

Intentona que terminou cedo, condenada por unanimidade pelos países latino-americanos, porque o discurso que se lia nas páginas dos jornais não correspondia ao desejo da população que protestava nas ruas.

Tristemente, uma parte de nossos jornalistas torce o nariz para tudo isto. Mas nossa imprensa, mais diversificada e democrática, não tem razão nenhuma para inspirar-se na venezuelana. Recusar este mau exemplo é obrigação dos colegas minimamente críticos.

Em 1989, a má vontade acrítica da categoria tolerou um dos episódios mais vergonhosos da história da imprensa brasileira, a manipulação que culminou com a eleição de Fernando Collor de Mello. Desejamos de fato involuir?

Desta vez, não existe sequer um Brizola para ameaçar nacionalizar os meios de comunicação. Pelo contrário, Chávez é aliado do Brasil (e do nosso capitalismo) e sempre foi simpático à nossa imprensa. Qualquer um que pise na Venezuela verá como os jornalistas estrangeiros são bem tratados no país, seja pelo governo ou pela população nas ruas.

Dizem que a briga de Chávez com a imprensa local é oriunda dos ataques verbais do presidente aos meios venezuelanos - bobagem. A atual briga dos meios brasileiros com Chávez comprova que a imprensa, como guardiã de um sistema econômico que lhe beneficia, combate Chávez porque esta é sua natureza.

Que sistema é esse, as matérias raivosas não explicam. Uma vez que precisão conceitual nunca foi o forte do nosso jornalismo, esses setores da imprensa se contentam com latir para tudo e para todos, meio que a torto e a direito.

O curioso é que não percebo o mesmo rancor em veículos como o New York Times ou a The Economist, que, estando nos países ricos, talvez tivessem mais razão para identificar-se com este sistema econômico. Paradoxalmente, é mais fácil encontrar matérias balanceadas sobre a Venezuela nesses veículos que nos nossos.

É que, mesmo no mundo dos cães, existem diferenças. Algumas raças são mais inteligentes que outras. Umas, mais astutas, sabem separar os alhos dos bugalhos. Outras, mais torpes, apenas babam e arreganham os dentes.


Nota do Editor: Pablo Uchoa é jornalista e autor do livro "Venezuela: A Encruzilhada de Hugo Chávez" (Ed. Globo, 2003), menção honrosa no Prêmio Vladimir Herzog de Direitos Humanos 2004. Foi produtor e editor da Globonews e de reportagens especiais do Jornal Nacional em São Paulo. Atualmente, é mestrando em Ciência Política Latino-Americana no Institute for the Studies of the Americas, em Londres.

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