O pior diagnóstico já feito a respeito da obesidade partiu da OMS - Organização Mundial de Saúde. O órgão aponta que a doença é a segunda causa de todas as mortes que podem ser prevenidas em todo o mundo. Só perde para o cigarro e leva à morte dentro de 10 a 15 anos. E as co-morbidades que acompanham a epidemia incluem quase todos os males provenientes do estilo "moderno" de vida: pressão alta, colesterol elevado, problemas respiratórios, diabetes, câncer, entre muitos outros. A constatação é de que se não for tratada, a obesidade pode encurtar a média de vida de uma geração inteira, graças as co-morbidades. O cirurgião gastroenterologista, vice-mestre da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica - Regional São Paulo, Thomas Szegö, acredita que esse efeito somente será sentido em longo prazo, mas a preocupação com a epidemia deve começar agora. "É preciso trabalhar para que as doenças relacionadas à obesidade retrocedam", analisa ele. O cirurgião avalia que manter o excesso de peso significa seguir na contramão do que buscam a medicina e a ciência atualmente. No Brasil, a expectativa de vida subiu de 62,6 anos, em 1980, para 72,2, em 2006, segundo projeção divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No entanto, isso poderá mudar em alguns anos. "Um estudo recente do New England Journal of Medicine demonstrou que a vida de um obeso mórbido pode ser reduzida entre 4 e 9 meses", advertiu Szegö. O IBGE aponta ainda que cerca de 40,6% da população brasileira está acima do peso e são aproximadamente 2 milhões de obesos mórbidos. E o problema não é só nacional. A doença se alastrou e hoje atinge, conforme revela a OMS, 300 milhões de pessoas em todo o mundo, além de outras 750 milhões, que já estão acima do peso ideal. Qual risco correr? Uma das dúvidas que surgem quando o paciente é diagnosticado como obeso mórbido é quanto ao risco que ele preferirá correr: carregar o peso excessivo ou operar. "Dados indicam que há maior risco na doença que na cirurgia", garante Thomas Szegö. O médico lembra que após a intervenção, o paciente vê desaparecerem sintomas de diabetes e hipertensão arterial muito rapidamente. "Mais de 96% dos problemas de saúde relacionados à obesidade são resolvidos após a operação para reduzir o estômago. Ou seja, ela se configura, de fato, como um tratamento eficaz", reforça. O paciente operado, em geral, concorda com esse contexto positivo sobre a cirurgia já que, depois de perder o excesso de peso, o ex-obeso resgata a auto-estima e retorna ao convívio social. Critérios cirúrgicos e estatítiscas Apesar de não ser o primeiro tratamento a ser adotado por paciente e médico, como explica o cirurgião, a cirurgia bariátrica é a solução viável quando o caso é grave e os benefícios da operação são maiores que os inconvenientes advindos. Isso gerou até mesmo uma nova discussão a respeito do cálculo do Índice de Massa Corpórea (IMC), usado para "medir" o quão obeso está o paciente. Hoje, apenas quem apresenta o IMC superior a 40 ou variando entre 35 a 40 e quadro de doenças associadas, pode passar pela cirurgia bariátrica. Mas, conforme Szegö, há uma tendência internacional para que isso mude. "Existem pacientes que têm IMC 35 e doenças como hipertensão, diabetes e outras co-morbidades, enquanto outras com IMC maior não têm nada". Os médicos é que devem avaliar com cautela quando é possível o paciente chegar à sala de cirurgia. "Quem apresenta obesidade mórbida precisa do acompanhamento multidisciplinar antes e depois da operação, recebendo a atenção de especialistas", pondera o cirurgião. O tempo médio de cirurgia é de 1h30. Depois da operação, 95% dos pacientes ficam internados, em média, dois dias, enquanto 3% recebem alta no terceiro. Apenas 2% dos operados apresentam alguma complicação. Embora todos os números comprovem a eficácia da cirurgia, Szego salienta que apenas a operação não basta. Porque quem chega à obesidade mórbida será um eterno doente. "E por ser uma doença, a obesidade é alvo de preocupação efetiva e contínua", finaliza.
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