Em relação a Brokeback Mountain, o filme sobre os caubóis gays, a população masculina, sobretudo no RS, divide-se em dois grandes grupos. Primeiro estão aqueles que não querem ver o filme de jeito nenhum. Os argumentos variam e vão desde o desprezo puro e simples ("Isso é coisa de veado") até raciocínios mais sofisticados, como aquele que apareceu em artigo do New York Times: sou muito sugestionado pela publicidade, escreveu o autor, e compro qualquer coisa que aparece, de modo que, para evitar tentações, é melhor não ver o filme. Depois temos aqueles que vão, sim, assistir a Brokeback Mountain. A motivação aí também varia, e nela podemos ver aquilo que Freud chamou de conteúdo latente e conteúdo manifesto. Conteúdo manifesto, no caso, é o que a pessoa verbaliza: vou ver o filme por causa do Oscar. Vou ver o filme porque o meu vizinho falou muito bem do diretor. Vou ver o filme porque... Etc. etc. O conteúdo latente é aquilo que a pessoa não diz, a motivação oculta e até inconsciente. A verdade é que, preconceito à parte, existe muita curiosidade sobre o universo gay. De qualquer modo, ir ao cinema para assistir a Brokeback Mountain exige, para os homens, certas precauções. Um amigo meu ficou por conta quando soube que a mulher já tinha visto o filme: "Sozinho não posso ir. Vão dizer que me separei e virei bicha". Para os que vão sozinhos, o pessoal da bilheteria vira uma espécie de superego, de juiz moral, como o comprova o audível monólogo de um senhor já de idade, comprando entrada: "Hum... Qual o filme? Aquele ali já vi. Aquele outro deve ser muito chato. Sabe de uma coisa? Me dá um senior para o filme dos cauboizinhos mesmo". Ah, sim, o filme. É bom. Mas será que alguém está interessado em qualidade cinematográfica? * * * Este ano vou realizar um sonho de muitos homens: farei 69. Anos, seus imorais. Anos.
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