Há um campo em que as más intenções do governo do Sr. Luiz Inácio deixarão seqüelas permanentes e de difícil reversão para os brasileiros. Nem quero aqui me estender nas obviedades sobre suas ações maniqueístas na área da Educação, no despautério que tem sido o inchaço do funcionalismo público, a manipulação eleitoreira dos programas sociais, a brincadeira de falsa potência que é a aventura policial do nosso Exército no Haiti. Não, tudo isso é fichinha. A questão do "mensalão" também é fichinha. De algum modo todos os governos pretéritos puseram a mão nessa cumbuca, com o atenuante de que o faziam com recato e um certo mal-estar, aquele mal-estar que até as crianças traquinas demonstram quando em pleno ato de peraltice. A singularidade petista é que não tem qualquer pudor, sente-se acima do bem e do mal, acima da Justiça e do controle dos órgãos permanentes do Estado. E pelo tamanho e extensão da empreitada, que merece o correto nome de maior projeto de corrupção posto em marcha no mundo. Algo megalomaníaco, que deveria ir para o Guiness Book. Saindo o PT do governo zera-se tudo e começa-se o ciclo novamente, daí a sua relativa desimportância no longo prazo, sobretudo agora que o projeto fracassou porque veio à luz do dia. A fonte secou. E também aos projetos de maldades malogrados pelo Legislativo e pelo Judiciário. Não me esqueço da tentativa de taxar mais severamente as empresas de prestação de serviços, um assalto à luz do dia que poderia colocar a carga tributária nacional perto de 50% do PIB. Severino Calvalcanti, em boa hora, ajudou a abortar o monstrengo. E a história mal contada da reforma eleitoral que acabaria com a verticalização da campanha presidencial, uma verdadeira regressão nas práticas políticas e um casuísmo sob medida para beneplácito do Sr. Luiz Inácio. Em boa hora a Justiça Eleitoral acabou com o casuísmo. A lista de maldades é longa e não cabe aqui um balanço completo de todas elas. Quero me referir àquelas duas que ficarão por longo tempo amaldiçoando o Brasil e os brasileiros: a estúpida hostilidade aos EUA, que nos custa - e nos custará muito mais no futuro - as melhores relações comercias que mantemos com o exterior e o outro lado da moeda, o apoio ao Mercosul, essa barca furada que naufragará inapelavelmente, herança maldita do governo Sarney. O acordo nuclear anunciado entre os EUA e a Índia mostra o que vale ter uma política externa inteligente e respeitosa para com os detentores do poder mundial, com quem de fato manda no mundo. O cobiçado assento no Conselho de Segurança da ONU, se este for ampliado, será por direito dos indianos, que se mostraram confiáveis. Nossa diplomacia foi arquitetada por um Jeca e posta em prática por outros ainda piores. Lula entregará o poder com a Nação brasileira tendo seu peso geopolítico reduzido a muito menos do que tinha. Caipiragem diplomática não é bobagem que possa ser corrigida com menos de uma geração. Essa idéia fixa do Mercosul obrigou os EUA á agir de forma bilateral com os diversos países do continente, isolando o Brasil, principal perdedor, seus sócios menores e o maluco do Hugo Chávez. Esse prejuízo é irreparável e em breve tempo sacrificará as transações de comércio com os EUA, consolidadas há séculos, produto da inteligente diplomacia que tivemos no passado. Não se pode minimizar as conseqüências nefastas dessa estupidez econômica fundada na ideologia mais burra. Países, na sua política externa, devem ser antes de tudo pragmáticos. Lula tem sido o oposto disso. É a imagem do filho pródigo que desperdiça os talentos, não os dele, que não os possui, mas os de toda a gente brasileira. Caminhamos para o desastre nas relações internacionais. Nota do Editor: José Nivaldo Cordeiro é economista e mestre em Administração de Empresas na FGV-SP.
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