Sabe-se que a espécie humana é a única em que o indivíduo transmite a própria experiência ao seu descendente. Graças a essa faculdade, que permitiu acumular conhecimento ao longo dos tempos, o mundo tem se desenvolvido e, para o bem ou para o mal, a humanidade é o que hoje conhecemos, com todas as suas mazelas e maravilhas. No Brasil, todavia, parece que, contrariando a regra, não temos aprendido com as duras lições que recebemos e, tudo indica, a História está prestes a se repetir, consumando mais uma década perdida. Passado o período carnavalesco - que, no Brasil, agora se estende por mais de dez dias - constatamos que o furor moralizante do ano passado praticamente se esvaiu e a sociedade não se choca mais com o continuado pipocar de escândalos que as CPI regularmente trazem à baila e que o governo insiste em ignorar. O noticiário da mídia está aí para comprovar a loucura que ora vivemos. Acabam de descobrir que um depoente mentiu numa CPI. Ora, quem não mentiu? Houve gente que recebeu até autorização para mentir!!! E o que dizer da denúncia de venda ilegal de madeira no Pará, com a conivência de órgãos governamentais, deixando o país em situação vexatória perante os que pugnam pela internacionalização da Amazônia? Antigamente, quem financiava as escolas de samba eram os bicheiros. Depois, os traficantes. Agora é o Sr. Hugo Chávez, com dinheiro do povo venezuelano. No início foi uma refinaria de petróleo em Pernambuco. Agora, um milhão e meio de dólares para que a escola divulgue o ideário particular do Sr. Chávez. O que acontecerá amanhã? Quão grande seria a grita se o governo americano fizesse o mesmo para enaltecer a ALCA? Houve uma época em que Cuba interveio, inclusive com recursos financeiros, na política interna brasileira, o que nos levou a cortar as relações diplomáticas com aquele país. Tal fato está mais do que comprovado, inclusive por declarações das próprias pessoas que receberam o dinheiro. (Será que vale a pena citar nomes? Creio que não. Todos sabem quem são os amigos do Comandante Fidel). Hoje, pelo andar da carruagem, somente um ingênuo pode esperar que não chovam dólares venezuelanos sobre o PT nos próximos meses, em que pese a postura do nosso Ministro da Justiça no sentido de, como disse, coibir a todo custo a utilização de caixa 2 na campanha eleitoral. Enquanto isso, a oposição, entorpecida, estupefata com o rolo compressor do governo, aguarda que o ímpeto do ataque esmoreça para que possa contra-atacar. Creio, porém, que o ímpeto, ao invés de esmorecer, vai mesmo é recrudescer. Chegou a hora de utilizar os polpudos recursos que, honesta ou desonestamente, o PT amealhou nos últimos anos e de empregar com vigor a máquina governamental que foi intencionalmente preparada para a ocasião, com seus trinta e tantos ministérios e as importantes infiltrações em todos os setores da vida pública. Houve algumas conquistas da sociedade, não há como negar. O STF, numa decisão histórica, deu um solene NÃO ao nepotismo. O Congresso colocou em termos aceitáveis o problema da convocação extraordinária e reduziu para 55 dias o recesso parlamentar. (Até hoje não entendi por que não são 30 dias, como ocorre com todos os demais trabalhadores). Em que pese o oportunismo do gesto, os investimentos em rodovias são muito bem-vindos. Bem ou mal, o enorme aumento da bolsa-família, mesmo como solução paliativa, contribuiu para melhorar a distribuição de renda. Tudo isso, todavia, é muito pouco. A carga tributária é elevadíssima. O reajuste da tabela do imposto de renda da pessoa física já se evidenciou como simples manobra eleitoreira. As casas do Congresso continuam a pagar "jeton" a quem falta às sessões. Ninguém fala mais na reforma eleitoral. Os juros continuam altíssimos. O anunciado "espetáculo do crescimento" ainda não deu o ar de sua graça. A redução do desemprego continua sendo apenas uma vaga promessa. Até hoje as CPI não apresentaram um resultado compatível com o tamanho dos escândalos. E, pior de tudo, nosso presidente continua morando na Passárgada... A menos que a oposição se mostre competente e a sociedade saia de sua letargia, o quadro que se apresentará ao eleitor, em outubro próximo, será o mesmo de quatro anos atrás e, muito provavelmente, o resultado das urnas também será o mesmo. E, em 2010, restar-nos-á lamentar, como se lamentavam os portugueses na época da ocupação francesa, no início do século XIX, por não terem oferecido resistência ao avanço de Napoleão: permanece tudo como dantes no quartel de Abrantes. Nota do Editor: Mário Ivan Araújo Bezerra é oficial-general da Reserva do Exército.
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