Deu no Observatório da imprensa: "para restringir o vazamento de informações secretas, o governo Bush realiza uma campanha direcionada a jornalistas e suas possíveis fontes governamentais. Os esforços incluem inquéritos do FBI, uma investigação interna com detector de mentiras na CIA e um alerta do Departamento de Justiça alegando que repórteres podem ser processados sob leis de espionagem." Deu no Uol: "A pedido do ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça), Lula enviará ao Congresso um projeto que reformula a legislação da escuta telefônica no país. Contém regras para ’conter abusos e desvios’. Em seu trecho mais polêmico, a nova lei abre brecha para a punição de jornalistas que divulgarem o conteúdo de grampos, mesmo os realizados com autorização judicial. O projeto pune a divulgação com prisão de um a três anos, além de multa." O que mais me diverte no jornalismo é isso: como os donos do poder tremem diante de um gravador, câmera, microfone, caneta, bloquinho de anotação... empunhados por alguém que se diz jornalista, geralmente com aquela cara - perdoem, colegas - sem sal, sem açúcar, mas que esconde/revela ar do tipo "olha que eu publico, hein?". E não importa se é da esquerda, da direita, do passado ou do futuro: "três jornais me botam mais medo do que cem mil baionetas", disse, frase famosa, Napoleão Bonaparte. E provavelmente o líder da futura liga intergalática também vai temer o jornalista futurista. Ah? Bem... Napoleão, Bush, Lula... Esse povo temia e teme a imprensa mais do que a polícia. Mais do que a cólera divina. Esse medo é bom? É a base do jornalismo. Diria que é matéria-prima. Se o cacau serve para fazer chocolate, o medo de poderoso serve para fazer jornal. Este medo lapida, por exemplo, as técnicas do jornalismo investigativo - temas que as faculdades, pasmem, tentam ainda injetar nos futuros novos profissionais, que só querem ser clones de Fátima Bernardes e Willian Bonner. Este medo fortalece editores, corajosos, que, pasmem 2, pagam bem repórteres com coragem suficiente para desafiar, olho no olho, o que napoleões, por aí, recusam-se a dizer ou mostrar. Este medo faz com que o público, pasmem 3, reconheça e valorize (quer dizer, dê ibope) ao ver/ouvir/ler... reportagens que ousam pular muros que cercam informações socialmente importantes, mas comprometedoras a uns e outros. Este medo ainda mantém vivo, pasmem 4, coisa rara no jornalismo atual, mas que, pasmem 5, ainda existe: o idealismo. Lembra disso? Pois saibam, bushs, lulas e napoleões... Seus medos são alimentos. Nota do Editor: Alex Possendoro é colunista da seção Iscas Jornalísticas do site www.lucianopires.com.br, graduado e Mestrado em Comunicação Social pela USP. Atuou na Folha de São Paulo e em diversos veículos, é coautor dos livros-reportagem "Guia das Almas", "Nau dos Desejos" e "Cotidianos do Metrô" e de um livro de ensaios, "Políticas Culturais". Atuou nos últimos seis anos na Revista Marketing Cultural, tornando-se especialista no assunto, dando cursos e prestando consultoria para empresas como Ford Credit, Cinema Centro, Dana e Sebrae-SP.
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