Pela internet - extraordinário meio de comunicação sobre o qual o governo Lula, tal como a ditadura de Pequim, promete para dentro em breve maior controle e taxação - vejo a retransmissão de uma entrevista relâmpago do repórter Jorge Ramos, da Televisão Espanhola, com o presidente Evo Morales, da Bolívia. O fato jornalístico é lapidar, pois termina num entrevero e denuncia o grau de avanço da mentalidade totalitária na América Latina. Morales, com sua cara quadrada de ex-sindicalista bem nutrido, no seu terreno, é a imagem da prepotência, mas, curiosamente, não intimida o veterano repórter, durante o breve diálogo que abaixo reproduzo: Repórter - O que muitos têm medo e temem é que o seu governo se assemelhe ao autoritarismo de Hugo Chávez ou a ditadura de Fidel Castro. Você já disse que admira Fidel Castro, é certo? Morales - Com ativo respeito. Eu o respeito e admiro. Porque lá há democracia, viu! Repórter - Perdão. Está dizendo que em Cuba há democracia? Morales - Se bem... Fidel Castro... está lá... estourou a revolução... Repórter - Perdão, a pergunta que faço é muito simples: para você Fidel Castro é um ditador ou não é? Morales - Para mim ele é homem democrático, que defende a vida, que tem sensibilidade humana. Se para você ele é ditador, o problema é seu, não é meu problema. Repórter - Você chegou ao poder pelo voto. E não pede a liberdade para os cubanos?... Morales - Eu tenho respeito... Não sou hipócrita... Repórter - Eu pergunto: e isto não é uma hipocrisia? Morales - A hipocrisia vem de suas perguntas. Eu quero pedir muito respeito. As perguntas são sobre a situação econômica do meu país. O que você está querendo é uma confrontação política internacional. E isso não é permitido! Quando Jorge Ramos atende ao futuro ditador e pergunta sobre o delicado problema do narcotráfico, esteio da economia boliviana, Morales se levanta, retira o microfone e diz: - Termina aqui. O repórter insiste, olhando o relógio: - Temos ainda 6 minutos e 40 segundos... Morales, piscando de ódio, aponta a saída para o repórter e assim, de modo abrupto, encerra a entrevista que não começou. Evo Morales, um desses líderes sindicalistas que fazem da estatização o abismo que separa a civilização da barbárie, é o mais novo e arrojado integrante do eixo do mal na América Latina. Seu mentor ideológico é nada menos que Fidel (Alejandro) Castro Ruz, o tirano que fez de Cuba uma ilha-cárcere. Seguindo a cartilha proposta pelo Foro de São Paulo (realizado em Havana em junho de 1990), cujo objetivo básico é o de "recriar na América Latina o que foi perdido na Rússia e no Leste Europeu", Morales dá os passos iniciais para formar no solo boliviano um governo "nacional, popular, democrático e antiimperialista". Tal como recomenda o documento do Foro para derrubar a democracia burguesa (representativa), eis a primeira medida a ser perseguida pelo novo governo: "Instituir um projeto de integração com forte participação do Estado e o controle do mundo do trabalho, que permita projetos comuns que apontem a novas formas de produção e propriedade". E, a seguir, inevitavelmente, a segunda medida, fundamental para o êxito da estratégia totalitária: "Constituir o urgente controle público, não necessariamente estatal (mas de partidos e sindicatos de esquerda), sobre os meios de comunicação e telecomunicação", que "deve reorganizar os sistemas de comunicação no sentido contrário da concentração monopolista" da imprensa burguesa, para, "se chegar à nova cidadania". Na conflitante Venezuela, o coronel golpista Hugo Chávez, poderoso integrante do "eixo" por conta dos extorsivos preços do petróleo, já desenvolve o projeto revolucionário em ritmo acelerado: funda dezenas de estatais, expropria fábricas, minas e fazendas particulares, amplia a carga de impostos, atropela os poderes legislativo e judiciário e, de quebra, fomenta um sistema de escambo com países como Cuba, no qual o petróleo abundante funciona como "balão de oxigênio" para manter a rastejante tirania do Líder Máximo (quase octogenário), que Chávez aspira um dia substituir. Nada disso adianta, salvo para os apaniguados do esquema ditatorial, a nova casta que surge da aliança entre burocratas e políticos oportunistas, e que se diz revolucionária. A própria Cepal - a Comissão Econômica para a América Latina -, órgão da desmoralizada ONU, deixou claro em informe de 2005 que as medidas empreendidas por Chávez "não contribuíram para a redução da pobreza e da desigualdade". Por sua vez, o Instituto Nacional de Estatísticas (INE), entidade oficial do governo venezuelano, reconhece que a pobreza cresceu: passou de 42,8%, em 1999, para 53% no fim de 2004 - e com pobreza veio o aumento em larga escala do desemprego e da violência. Se com Fidel o famigerado esquema levou Cuba à fome e ao terror - por que daria certo com Chávez, no entender de muitos mero protótipo de "porteiro de boate gay"? No caso específico de Morales, é mais que factível apostar no fracasso do seu governo ou até na sua queda antes do final do mandato, mesmo contando com a substancial remessa dos "petrodólares" de Chávez. Em se tratando da Bolívia e suas instituições políticas, nada surpreende e tudo é possível. Mas, de imediato, quem se ferrou com o ex-sindicalista "cocalero" foi o Brasil e o povo brasileiro. Além da ameaça de perder US$ 1,5 bilhão, ou mais, investidos nas refinarias da Petrobrás na Bolívia (a serem encampadas), o gás importado está chegando ao solo pátrio dez vezes mais caro, com a brutal elevação dos royalties e impostos cobrados por Evo, o masculino de Eva. Nota do Editor: Ipojuca Pontes é cineasta, jornalista, escritor e ex-Secretário Nacional da Cultura.
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