Que venha Robinson Crusoé...
Ricardo Yazigi
ryazigi@iconet.com.br
Alguns dizem que Ubatuba possui 74 praias, outros afirmam existir apenas 73. Para tirar o tira-teimas, pesquisei em mapa oficial e tudo, e cheguei a conclusão que são 82 praias. De duas, uma: ou eu não sei contar, ou então as praias das ilhas que fazem parte do município, não são consideradas praias. Se a primeira hipótese for verdadeira, devo ser informado urgentemente, pois há mais de 20 anos vivo de fazer contas, e se minhas contas não funcionam, eu deveria estar fazendo companhia aos meus amigos e amigas que se foram, e hoje gastam seu tempo ouvindo os concertos de harpa dos anjos. Entretanto, se a segunda hipótese for verdadeira, ficará provado que ilha não é terra, nem areia. Se praia de ilha não vale, Robinson Crusoé dançou. O Caribe então, nem se fala. Aquelas praias paradisíacas das inumeráveis ilhas do Caribe não existem. Os turistas idiotas que arrumem outro canto para passar as férias.
Na verdade, o número exato das praias de Ubatuba não é dado relevante, pois com qualquer valor que adotarmos, concluiremos que para cada praia do município, existem menos de um milhar de habitantes. Em outras palavras, se toda população de Ubatuba resolver sair à praia num domingão ensolarado, haverá um lugar ao sol para todos, sem maiores apertos.
Vem agora a questão fundamental: quantas cidades do mundo oferecem essa condição? Provavelmente, pouquíssimas.
Além desse fantástico número de praias, Ubatuba possui áreas verdes imensas, com parque estadual, federal e horto florestal, onde se concentram fauna e flora riquíssimas, de causar inveja a qualquer país. Além disso tem cascatas, tribo de índios, colônia de pescadores e ainda por cima fica por baixo do trópico de capricórnio, o que, exotericamente falando, nos dá um alto astral.
Muitos lugares turísticos do mundo não possuem a décima parte dos recursos naturais que Ubatuba tem. Infelizmente, é pobre em infra-estrutura turística, um mal que assola todos os cantos do Brasil. É difícil para um país de enormes degraus sociais, como é o nosso, compreender que o turismo é uma indústria como outra qualquer, que necessita de matéria prima (temos) e material humano qualificado (não temos). É preciso investir maciçamente na educação. Nossos filhos, netos e o planeta serão eternamente gratos.
Apesar de tudo, no contexto geral do mundo de hoje, vivemos aqui, uma situação privilegiada.
Quem sabe, um dia, até Robinson Crusoé venha curtir um solzinho, na mesma praia onde José de Anchieta, rabiscou nas areias, poemas que entraram para o acervo da literatura brasileira? Isso poderia até atrair os turistas que não puderam mais freqüentar o Caribe.
Não dá para virar o milênio sem vermos a esperança a caminho.
E que venha na velocidade da luz.
 
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