· Hoje vi nascer uma prisão
Paulo Vilela
vilela@nox.net
Vi dedos ágeis manejar fios de aço,
E com pequenos pedaços de pau,
Tecer planos até formar o confinado espaço
Do teu futuro, pássaro!
Penoso artesanato este,
Que com trapézios e balanços
Tenta enganar tua morte
Com diversão.
Se ao menos pudesses gritar
Para que todos os pássaros soubessem...
Tu, certamente voarias para onde
Não poderiam atrapalhar teu canto.
Mas o canto traiçoeiro de uma fêmea
Sabotou teu instinto, e numa arapuca te fez prisioneiro.
Não é muito diferente
O que ocorre com os homens, pássaro!
Só mudam as gaiolas
E as grades.
Agora, terás que se acostumar
Com outro espaço...
Uma pequena jaula enfeitada
Com comida e água,
Em troca do teu grito de revolta,
Que eles chamam de canto.
Durante o café da manhã,
Eles se reúnem e ouvem ruidosos
Teus gritos e lamentações,
Como se fosse uma manifestação da tua alegria.
Quanto mais gritas e te arrebentas
Contra os fios de arames, mais eles te querem.
Mas se deixares de lutar, por hábito ou cansaço,
Apressarão tua morte.
Exercita-te, pois, pássaro! O mais que puderes,
Não deixes que os pés te atrapalhem e as asas se atrofiem.
Mas não grites mais, e pensarão que estás velho,
Mais velho do que realmente és -- não te darão mais atenção.
Prepara-te bem, pássaro! O melhor que puderes!
Não voes jamais na primeira oportunidade,
Porque eles correrão desesperados atrás de ti.
Jogarão travesseiros, farão tudo para alcançar-te.
Só haverá uma chance, pela uma única janela aberta...
Deverás subir o mais alto que podes, acima de todas as janelas
E gritar em meio a outros todos tantos gritos,
Teu verdadeiro grito!
Voa pássaro! À liberdade. 
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· Educação para todos
Eduardo de Souza César
articulista@ubaweb.com
Outro dia li um texto sensacional que abordava a problemática da educação brasileira, no jornal Folha de S.Paulo, no qual seu autor, Rubens Alves, na seção Tendências e Debates, de forma muito competente, defende a tese de que o país precisa parar de dar prioridade a sonhos individuais, essência do egoísmo, que tanto vem infelicitando e travando nossa evolução enquanto nação. De fato, enquanto o país não puder contar com um ideal que possibilite sem distinção de credo, matiz de pele, condição socioeconômica, reunir todos os indivíduos do país, objetivando construir uma nação livre, sem exclusões, discriminação e proporcionando possibilidades a todos os de boa vontade em participar e usufruir da cruzada que poderá propiciar o tão sonhado progresso, que suponho se almeje para o país, mola propulsora para possibilitar que cada vez mais tenhamos maior qualidade de vida.
Lamentavelmente, as perspectivas que vêm se desenhando para nosso país não são das mais animadoras, pois a elite que detém o poder neste país, até o momento, ainda não percebeu que somente poderemos inscrever o nome do Brasil no primeiro mundo, tendo como equipamento básico, para se promover tal salto, a educação e, neste particular, percebemos que existe um esforço das classes dirigentes, em sua grande parte, em tentar mostrar um avanço educacional que só está ocorrendo a nível de marketing, pois a educação no Brasil, de fato, utilizando-se o jargão popular, está entregue as baratas.
É comum encontrarmos jovens concluindo o segundo grau, totalmente analfabetos, sem um mínimo de conhecimento em termos de atualidades, desprovidos de senso crítico, e da mínima condição de se expressar de forma clara tanto em ternos verbais, quanto à incapacitação para redigirem uma redação. As nossas escolas, nos dias que correm, garantem a aprovação de todos, independentemente de terem captado ou não a matéria que vem sendo ensinada, aspecto que está cada vez mais desistimulando os que se empenham nos estudos, pois vêem os colegas que não estudam sendo promovidos.
O que percebemos é que não há compromisso com a boa qualidade de ensino para as escolas públicas, nas quais os filhos da classe proletária, em grande parte, vai apenas para receber a merenda e transformarem-se em números para compor os belos quadros estatísticos que servem para dar satisfação aos organismos internacionais, que fornecem as verbas para financiar determinados projetos, que, por fim, somente acabam beneficiando uma parcela ínfima da população.
A classe pobre no Brasil paga impostos para proporcionar escolas de boa qualidade e bem equipadas para os filhos da parcela mais abastada da população e, para confirmarmos esta afirmação, é só darmos uma circulada pelos estacionamentos das faculdades federais e estaduais e analisarmos os tipos de carros estacionados nos mesmos, que facilmente iremos concluir a classe social a que pertencem os alunos daquelas instituições públicas.
A maioria da população brasileira estuda em escolas mal instaladas, sem equipamentos, com professores despreparados e desmotivados, pois ganham um salário que somente lhes permite parcamente sobreviver, sem dinheiro para adquirir livros, fazer cursos de atualização, assinar um jornal, enfim, tendo que trabalhar desprovido de sua principal ferramenta de trabalho que é a informação. Desta forma se reproduz pelo país uma educação que não habilita o jovem a enfrentar os desafios do mercado de trabalho que velozmente, cada vez mais se sofistica, sendo urgente que se atente para este fato, posto que, se esta afasia que hoje prevalece no sistema educacional brasileiro persistir, certamente haverá um agravamento insustentável que se abaterá sobre o país, que cada vez mais ficará sobre a égide da barbárie, a qual não desejamos para nosso gigante país, que ainda dorme seu irritante sono profundo em berço esplêndido!!! Continuamos a sonhar sonhozinhos sem atentarmos para o fato de que urge sonhos mais amplos e compartilhados para em comunhão salvarmos esta nação, que somente se tornará viável com um bom sistema educacional...
Nota do Editor: Eduardo César é professor e Vereador, do PDT, na Câmara Municipal de Ubatuba. 
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