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Ano 1 - Nº 10 - Ubatuba, 12 de Julho de 1998
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· HISTÓRIAS CAIÇARAS II

   O Pescador
    João Claro da Rocha - "Rochinha"
    Texto adaptado por EASN
    articulista@ubaweb.com

Sebastião Liberato - o pescador dos três mares -, saía para pescar às quatro horas da madrugada e retornava lá pelas duas, três horas da tarde. Uma canoa em que ele mal cabia dentro, um samburá com iscas, meia dúzia de bananas, ¼ de litro de farinha de mandioca, a poita, linhas e anzóis, remo e cuia.
Naquele tempo, a pescaria para ele era certa, o balaio voltava sempre cheio de corvinas, goetes, pescadas, roncadores, vermelhos, cações, jurunas, bagres etc. Isso quando pescava de linha de fundo, agora, quando pescava na costeira, nos parcéis e calhaus, vinham as garoupas, badejos, miras, pirajicas, sargos, marimbás, salemas, parús e jaguareçás. Era só arriar a linha e o peixe pegava.
Liberato dizia: "Nasci de sete meses, sem pele. Durante um mês fui enrolado com folhas novas de bananeira São Tomé. A parteira passava as folhas sobre o fogo de lenha e me enrolava. Sobre as folhas é que colocava as fraldas de algodão, que eram feitas de pano de sacos de ensacar mantimentos."
Apesar disso e também de ser franzino, de pouca estatura, Liberato era um homem muito forte. Alegre e brincalhão, dizia para mim e outros garotos daquela época: "Vou para casa levar estes peixes para a mulher consertar (*) e fazer um azul-marinho pro almoço. Deito com ela e faço um filho de olho azul."
Houve uma época, nos últimos anos de sua vida de pescador, que o Sebastião Liberato dizia que os barcos de traineiras perseguiam impiedosamente os cardumes de tainhas que elas viviam em cima das lajes ou parcéis e, quando ouviam o barulho dos aviões, afundavam de pavor do ronco dos motores. Dizia também que a pesca de mergulho era outro grande problema. Isso eu pude constatar numa certa ocasião em que vi chegar no cais pescadores com mais de meio saco de lagostas que tinham, no máximo, dez centímetros!
(*) Consertar: no linguajar caiçara significa o mesmo que limpar o peixe.Fim do texto.

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· Essa tal de Ilha Anchieta
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Ilha Anchieta - Foto: Paulo Roberto de Moraes

Antes que se fale do mesmo filme, da mesma encenação a respeito de um trabalho sério e profissional que possa transformar o Litoral Norte, em particular Ubatuba, em localidade turística é preciso relembrar um pouco do passado.
Nesses quarenta anos que estou em Ubatuba repetem-se os mesmos fatos. Após cada temporada de verão vem a crise financeira, desemprego, tristeza. Nas expressões somente a carranca do mau humor e da incerteza para nossa infelicidade, porque não dizer revolta. Somos como o mar, que os franceses chamam respeitosamente La Mer, já não suportando os cursos d'água poluídos oriundos das comunidades enganadas, como sempre, por atualizados chavões demagógicos. O que se escuta desta vez e novamente é: "opção pela pobreza". Por terrível que possa parecer acontece numa Ubatuba carente de riqueza que pretende sobreviver do turismo.
Sabemos que alguns retorcerão os narizes ao ler essa matéria. São as pedras do caminho: "não adianta mentir, nem pedir, nem gritar, nem ter medo... Agora... Há muita vida lá fora..." Os bons ventos nos conduzem.
Os mandatários de plantão torcem para que venha o verão e com ele, mais uma vez, possamos nos iludir, o amanhã melhor, as contas atrasadas saldadas, a esperança... Sempre foi assim.
A triste realidade é que a poluição tomou conta de várias praias como a do Cruzeiro, Itaguá, Enseada, Perequê-Mirim, Saco da Ribeira, Lázaro etc. E sol, praia e mar são os nossos maiores atrativos turísticos. Não se engana a todos o tempo inteiro. Banho de lama é medicinal, de esgoto, que eu saiba, não. E o monte de cachorros perambulantes. Porque não criar agora a Sociedade Protetora dos Seres Humanos. Chega de bicho geográfico, toxoplasmose, micoses e tantas doenças a mais que nos estão sendo transmitidas, principalmente no verão. O turismo no litoral paulista vem sendo boicotado de diversas maneiras. O Porto Flamengo, em 1986, no Saco da Ribeira é um exemplo.
Ilha Anchieta - Ruínas do Presídio - Foto: Paulo Roberto de Moraes
E a nossa (?) Ilha Anchieta com seu gigantesco potencial turístico? O que realmente está sendo feito lá? A quem indagar? Sobre ela tenho algum conhecimento. Pelos relatos históricos e vivência própria vi aquele local passar por uma série de transformações: já foi prisão política na época da 2ª Guerra Mundial, virou cárcere para gente de alta periculosidade. Em 1952, ocorreu um levante que acabou com o presídio.
Em seguida, alguém teve a idéia de transformar a ilha em colônia de férias para funcionários públicos estaduais e não deu certo. Depois falou-se na criação de um instituto correcional para menores delinqüentes, também não deu certo. De repente, um iluminado imaginou transformar a ilha em local de quarentena de gado importado, que se transformou num projeto aprovado pela Câmara Municipal de Ubatuba, com o infantil argumento que pecuaristas seriam atraídos e gastariam dinheiro na cidade. Trouxeram duas máquinas de terraplanagem, ferry boat e uma lancha. Foi uma festa: inauguração, foguetes, políticos para lá e para cá, comida e bebida, cabos eleitorais, puxa-sacos, tudo com o dinheiro público. Não deu certo: as peças das máquinas que não foram surrupiadas apodreceram na ilha. E o ferry boat, encalhado no rio da Ribeira, passou a servir de ponte e colocou um ponto final em mais um papo furado. Um dito entendido em vida animal e meio ambiente levou para a ilha vários macacos e algumas onças. As onças comeram os macacos e deram um jeito de sumir com os felinos. Antes disso, houve um projeto turístico grandioso que ficou exposto na av. Paulista, na capital, que incluía hotel, cassino e outras atividades. Morreu no ninho.
Atualmente, presenciamos barcos e algumas balsas especialmente construídas levando material de construção para a ilha. Pedras e areia ensacadas, tubulações, madeira etc. É preciso saber o que está sendo feito na nossa Ilha Anchieta, principalmente agora que a Lei de Gerenciamento Costeiro foi aprovada. Quem realmente responde pela administração do local?
Fala-se, inclusive, da presença de uma ONG (organização não governamental) que estaria recebendo subvenção em dinheiro alemão para implantar um projeto ambiental. Será verdade? Em todo caso, é preciso cobrar esclarecimentos, principalmente daqueles que percebem salários públicos, do que ocorre realmente na Ilha Anchieta e suas conseqüências. A preservação do meio ambiente e a integração racional do ser humano é dever legal de todos, uma questão de convivência pacífica das espécies, inclusive a nossa. Mas, quando se percebe o aparecimento de outros interesses é preciso transparência. O cidadão já aprendeu com o estado democrático que todos são iguais em direitos e obrigações perante a Lei. E que alguém, aparentando algum conhecimento científico, sociológico ou seja lá o que for, não pode usufruir melhor da vida a não ser do fruto de seu próprio trabalho. Mesmo sob o manto da defesa do meio ambiente, ainda que malandra e sofisticadamente travestido. Esse tipo de atitude confunde a população e acaba por colocá-la até contra os verdadeiros ambientalistas. A situação de penúria vivida pela cidade de Ubatuba e seus habitantes nos últimos vinte anos tornou-se insuportável e tem como principais responsáveis os falsos profetas por infelicidade aqui nascidos ou que, vira e mexe, surgem com seus nefastos planos que visam, tão somente, a defesa de seus escusos interesses. Como diria a Xuxa: xô pilantras!
A população ubatubense tem o sagrado direito de participar, influir e até determinar o futuro da Ilha Anchieta, principalmente nesse momento de angústia e desespero em que a violência, a insegurança e a própria fome passaram a rondar os lares, muitos ditos favorecidos. Esquecer a natureza e a defesa do meio ambiente é inadmissível. Como também o é desprezar um local como a Ilha Anchieta a nível de um grandioso e integrado projeto turístico para atendimento inclusive de grandes embarcações estrangeiras e seus milhares de passageiros. É melhor que o pessoal envolvido com a ilha pense bem, solicite a participação daqueles que reúnem condições de opinar com crédito de confiança. Somente dessa maneira estarão ajudando a construir um bom futuro para Ubatuba e sua tão sofrida gente. Convém lembrar que o crescimento populacional dessa região supera sempre as expectativas. É inevitável.Fim do texto.
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