Nasci em 41, durante a Segunda Guerra Mundial. Meu nome ROBERTO contém a primeira silaba de cada qual das capitais dos países do Eixo - RO de ROMA, BER, de BERLIM e TO, de TÓQUIO.
Tenho certeza que meu nome não me foi dado com a intenção de um alinhamento ou homenagem subliminar de meus pais ao nazi-fascismo. Muito pelo contrário.
Meu pai, democrata estrutural, já tinha até história pública de alinhamento ao ideário democrata; foi orador do Centro XI de Agosto da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, nos anos de 1931, 32 e 33. Motivou, com sua oratória convicta, os estudantes tanto do Largo quanto de outros estabelecimentos de ensino, à defesa dos ideais constitucionais.
Vale aqui pequena explicação. Até 1930 tínhamos uma democracia de fachada, onde as eleições eram feitas, como se dizia na época, 'a bico de pena', isto é, os mesários e outros que tivessem acesso as atas de votação e apuração 'davam um jeito' de acertar os resultados no sentido que desejassem.
Vitoriosa a Revolução de 30, Getulio Vargas assume com poderes ditatoriais, com a promessa de reunir uma Assembléia Constituinte. Não o fazendo, São Paulo e tantos outros estados combinam uma insurreição para forçarem a convocação da Constituinte.
Na hora 'H', por circunstâncias diversas, São Paulo acaba, na prática, lutando só. Depois de perdida a oportunidade de vitória rápida, com a suspensão do avanço militar das tropas revolucionárias sobre a Capital Federal, sabia-se aqui que a luta seria só para marcar posição, para não nos rendermos à ditadura, demonstrando, com nossa bravura e sangue, que queríamos a Democracia Constitucional.
A Revolução inicia-se em 09 de julho de 1932, feriado estadual que à pouco comemoramos. Termina quase quatro meses depois, onde lutamos, na falta de metralhadoras, com 'matracas' (aparelhos que fazem barulho semelhante ao de tiros seguidos).
Nossas deficiências bélicas eram conhecidas das tropas getulistas, tropas profissionais e aguerridas de todo Brasil.
De qualquer maneira, São Paulo fez jus ao seu lema: "Nom ducor, duco" - Não sou conduzido, conduzo.
Assunto que emociona, o que seria mero parênteses, foi além do esperado. Paciência.
Voltando ao assunto, há ícones que, para minha geração, são inafastáveis, quer positiva, quer negativamente. Sou oriundo da última geração reprimida por 'tabus': como exemplo positivo, a veneração que tínhamos por fotos de mulher pelada; como exemplo negativo, os 'campos de concentração'.
Foto de mulher pelada está superado, até por excesso de oferta.
Campo de concentração, graças a Deus, hoje não abunda, apesar de não se poder dizer que não existam mais (consta que atualmente existem até para se guardar aidéticos).
Assim, ano passado, quando visitei a República Checa, parte da antiga Checoslováquia, me obriguei visitar um dos campos mais 'light' dos nazistas: Thieretsin, onde só (?) foram mortas ... 80.000 pessoas.
É experiência única para qualquer ser humano. Indescritível nosso sentimento de repugnância, especialmente quando temos coragem de admitir que os que fizeram e operaram o sistema são seres humanos como nós, pertencentes a raças que nos deram os maiores expoentes humanísticos de nossa espécie.
Beethoven, Lutero, Tomas Mann, entre tantos outros.
Fortaleza militar, com mais de 100 anos, foi por vezes transformada em prisão política e, no último conflito mundial, acabou como 'campo de concentração' que recebia, preferencialmente, ativistas políticos, muitos franceses, fazendo varejo dos demais oprimidos, para não perder o costume.
Entre parênteses, tenho, neste texto, que me socorrer da ironia, como 'válvula de escape', tamanha a morbidez a conjuntura que ele encerra...
Surpreendentemente, o local onde se encontra hoje o museu que outrora foi o campo, é lindo em sua maior parte, exceto nos locais onde ficavam os alojamentos dos concentrados.
As áreas administrativas, o patíbulo(foto junta), os cemitérios atuais e o forno crematório estão cercados de vegetação e de flores que dão ao local um ar de paz e beleza indescritíveis. Fiz a visita no outono e as cores(foto junta) eram de harmonia pictórica ... chocante.
Nada indica que na época o ambiente vegetal fosse diferente; há fotos no museu dos prisioneiros tratando dos jardins...
Não tenho o talento de poder concluir, didaticamente, a lição que devemos tirar da visita e dos fatos que originaram preservação do local como museu.
Sei, pelo menos, que todos que pudermos, uma vez na vida, deveremos fazer uma visita a um local como este, para que não repitamos, nunca mais, o que lá ocorreu, fruto de semente que deve estar no íntimo de cada ser humano.
Para encerrar o alinhavado, quero que pensem no potencial significado da foto que dá nome ao presente, tirada de dentro do prédio dos fornos crematórios, com um par de portas, uma entreaberta, a outra fechada, entremostrando a harmonia da natureza do outono europeu.
