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Ano 1 - Nº 10 - Ubatuba, 12 de Julho de 1998
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Esporte

    Ralph Luiz de Carvalho Solera Soares
    rsolera@ubaweb.com

· JOGOS REGIONAIS

Foi realizado no início deste mês (2 à 11de Julho), os 42os Jogos Regionais, que tiveram como sede local a cidade de Cruzeiro. Os Regionais, como o nome sugere, são uma divisão do Estado de São Paulo em diversas Regiões Esportivas. Cada região tem uma sede e acolhe as cidades próximas. Os finalistas de cada região se enfrentam nos Jogos Abertos do Interior, no fim do ano. É uma oportunidade dos atletas locais representarem a cidade no esporte que praticam e, quem sabe, se classificarem para os Abertos.

Ao invés de ressaltar as glórias de participar de um evento como esse, de lembrar o quanto é dignificante representar a cidade em uma competição esportiva, essa coluna deixa aqui um protesto contra a organização dos Jogos Regionais. Primeiro motivo: a já mais que conhecida "contratação" de atletas para representar cidades que às vezes eles sequer visitaram. A "contratação" é o maior trunfo de cidades como Suzano, Guarulhos e São Sebastião (que ultimamente tem deixado essa prática de lado). Com prefeituras razoavelmente bem financeiramente e incentivo (público e privado) ao esporte, essas cidades contratam atletas, das mais diversas modalidades, para representarem-nas nos Jogos Regionais. Na maioria, os atletas são profissionais de alto nível, acostumados até a competições internacionais.

Ora, devem pensar a maioria das pessoas, mas esses atletas precisam de torneios como esse para ganharem seu dinheiro e viverem, certo? E as cidades com isso ganham as medalhas e vencem os jogos. Certo? Errado. A proposta dos Jogos Regionais, a princípio, é o desenvolvimento do esporte amador no interior do Estado. E o que deveria ser um incentivo, como a possibilidade de confrontar atletas consagrados, acaba se tornando uma frustração. Imagine o atleta de Ubatuba, por exemplo, que treina durante um ano inteiro, e chega aos Regionais para enfrentar, na primeira rodada, um profissional contratado, que nunca visitou Suzano, mas está representando-a. Resultado: derrota no primeiro dia e volta pra casa. E assim acontece com as cidades mais pobres, que mandam os atletas locais e raramente conseguem resultados. Do outro lado, as cidades que contratam deixam de investir no esporte amador. As verbas que poderiam muito bem sustentar escolinhas de vôlei, basquete, futebol e etc., viram gratificações para profissionais de outras cidades e, em vários casos, de outros países. Sem falar que as medalhas conquistadas dão uma falsa idéia da realidade esportiva da cidade. Tomemos por exemplo a cidade de São Sebastião. Com a presença da Petrobrás, a prefeitura sempre dispôs de altas receitas, podendo aplicar 10% delas no esporte, porcentagem considerada alta. Entretanto, as verbas sempre se destinaram à contratação, e não à formação das categorias de base das mais variadas modalidades. Com isso, São Sebastião sempre disputou a primeira posição, tanto dos Regionais, como dos Abertos. Mas, de dois anos para cá, caiu o investimento da cidade no esporte. Cessaram a maioria das contratações, e a cidade passou a enviar aos Jogos os atletas locais. Dificilmente disputou medalhas depois disto.

A segunda reclamação é com relação à organização. Aliás, em vários casos, "desorganização". Várias modalidades não muito difundidas foram disputadas em situações precárias. A arbitragem, nem sempre especializada, foi preocupante. Nos esportes mais importantes, como futebol, basquete e vôlei, os árbitros eram, no mínimo, da Federação Paulista, quando não da Confederação Brasileira. Os dirigentes eram todos competentes por serem do ramo. Já em esportes de menor nome, os árbitros não eram tão capacitados, os responsáveis técnicos muitas vezes eram de outras modalidades e as condições de disputa eram bastante pobres.

Já que é cobrada da cidade sede investimentos nos ginásios, quadras e campos, porquê não exigi-los também nos esportes menos praticados? E porquê não dar igual atenção e cuidado à todas as modalidades, para que no futuro possam ser tão importantes quanto um jogo de basquete? Se a proposta de eventos como esse é o desenvolvimento do esporte, é preciso que se saiba que o "esporte" não é só futebol, basquete e vôlei.

 
 

· COPA DO MUNDO 

 

A desclassificação da Noruega ainda nas 8as de Finais da Copa confirmou um fato que também ocorreu na Copa de 1990 e na de 1994. No campeonato realizado na Itália, em 1990, a seleção que chegou com a maior carga de favoritismo era a Holanda, embalada pelo título europeu conquistado dois anos antes e pelo fato de possuir o melhor trio de ataque do mundo na época: Ruud Gulit, Frank Rijckaard e Marco Van Basten, ambos do Milan. Também contava com o excepcional Ronald Koeman. A Holanda empatou seus três jogos na 1a Fase e só se classificou por que ainda existia a repescagem, mas perdeu o jogo seguinte para a Alemanha e foi embora sem nenhuma vitória.

Na Copa de 1994, realizada nos Estados Unidos, ninguém chegou com tanto favoritismo como a Colômbia. Amparada por uma histórica goleada de 5x0 contra a Argentina em plena Buenos Aires nas Eliminatórias, a Colômbia ganhou das melhores seleções e equipes do mundo na época, incluindo o Milan Campeão Europeu, o São Paulo bicampeão Mundial e a Alemanha. Na Copa, não passou da 1a Fase, perdendo a vaga para a seleção norte-americana.

Agora, em 1998, na França, foi a vez da Noruega sentir o peso do favoritismo. Ganhou um amistoso do Brasil no ano passado (quebrando 3 anos de invencibilidade canarinho), passou com folga pelas Eliminatórias e chegou à Copa se declarando a favorita do Grupo e uma das prováveis finalistas do mundial. Também voltou pra casa antes da hora prevista.

O que essas três decepções tiveram em comum? Ambas as seleções citadas (Holanda, Colômbia e Noruega) tinham grandes elencos e grandes resultados pré-Copa. O problema é que elas próprias acreditaram demais no seu favoritismo. Um erro fatal, que nem as seleções consagradas se permitem. Copa do Mundo é um evento à parte dos demais. Tradição tem um peso muito forte. Tanto é que em 16 Copas do Mundo, ou seja 64 anos de competição, apenas 6 países conseguiram sair como campeões (Brasil, Argentina, Uruguai, Itália, Alemanha e Inglaterra) e apenas outros 5 conseguiram alcançar as Finais (Holanda, Hungria, Suécia, Tchecoslovákia e agora a França). Ou seja, apenas 11 países, em 16 Copas do Mundo diferentes, conseguiram chegar a uma Final, mostrando o quão difícil é realizar esse feito. Favoritismo não basta; é preciso muito mais.Fim do texto.
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