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Ano 1 - Nº 13 - Ubatuba, 18 de Outubro de 1998
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· Novas Tendências para o Mercado Editorial
  Brasileiro

    Ryoki Inoue
    editora@vertente.com.br
    Editora Vertente

 

Por mais que a Câmara Brasileira do Livro e as grandes editoras se esforcem em afirmar o contrário, no que diz respeito ao mercado editorial, o Brasil está atrasado em relação à imensa maioria dos outros países, em pelo menos trinta anos. Para exemplificar, veja-se a categoria dos pocket-books, que em todos os lugares são livros baratos, ou seja, ao alcance de qualquer um que queira ler, e que contêm material bom, desde os clássicos até os best sellers mais atuais. No Brasil, há alguma coisa nesse formato mas o preço... é o de um livro comum, quando não é ainda mais caro. E o que existe a preço mais acessível, é uma literatura tão ordinária que nem sequer merece a qualificação de subliteratura. É bem verdade que a Editora L&PM, do Rio Grande do Sul, tem produzido em formato pocket, alguns títulos bons, de autores consagrados como Luiz Fernando Veríssimo, Machado de Assis e outros. Mas é a única e temos visto, nas livrarias, que esses livros se encontram quase sempre enfurnados numa prateleira baixa, longe da vista dos possíveis compradores.

No que diz respeito aos livros comuns (formato 14 cm x 21 cm, em papel no mínimo de gramatura 75), enfrentamos uma outra política editorial torta: os editores brasileiros não gostam de investir em autores tupiniquins. A desculpa chega a ser convincente - o público leitor brasileiro prefere obras estrangeiras - mas nem por isso deixa de ser anti-patriótica, no mínimo. Nos Estados Unidos, até a década de 20, praticamente toda a cultura ainda era importada da Europa. O que é lógico, afinal de contas a Europa é o berço da civilização ocidental e as Américas formam um continente que mal está fazendo meio milênio de existência sócio-cultural. No entanto, graças ao estímulo dado aos escritores - e artistas, de um modo geral - pátrios, hoje em dia o que mais se lê por lá, nos EUA, são autores americanos e a conquista mais difícil para um estrangeiro é conseguir publicar um livro por uma editora americana, qualquer que ela seja. A diferença? Simples. Lá houve oferta de americanos para o público leitor. Houve investimento em autores autóctones. Aqui, isso é muito difícil.

Como se não bastasse, em nosso país o preço dos livros é muito alto. Mais uma vez, vemos presente o famoso círculo vicioso: temos poucos leitores, o que obriga as Editoras a tiragens baixas, o que encarece o livro e faz com que poucos possam adquiri-los. Nós, da Editora Vertente Ltda., não acreditamos que o brasileiro não goste de ler ou que tenha aversão a comprar livros. O brasileiro, depois da estabilização da moeda, depois do início de uma melhora no desenvolvimento cultural - ainda que tímida - passou a se tornar emergente não apenas do ponto de vista social e econômico mas também do ponto de vista cultural. Assim, aqueles que até pouco tempo atrás não se preocupavam muito com o saber, limitando-se tão-somente ao conhecimento prático das coisas, passaram a se interessar na leitura, mesmo que tal interesse se restrinja à possibilidade de comentar com vizinhos e amigos que leu tal ou qual livro. Mesmo que não tenha conseguido entender 10% da obra. Um bom exemplo disso foi o sucesso alcançado pelo livro O Nome da Rosa de Umberto Ecco, que vendeu maravilhosamente bem e que todos adoraram; no entanto, para se compreender completa e corretamente esse livro, é preciso conhecer Latim, matéria que foi abolida do currículo escolar há décadas... Mas, isso não importa. Importa que houve a compra, que houve a divulgação, que houve a manifestação e prova concreta do interesse pela leitura. Então, por que não estimular leitores com a publicação de boas obras de autores nacionais?
Cabe a nós, editores, proporcionar a possibilidade de que isso aconteça. Cabe a nós a criação de um público leitor mais respeitável, mais estável, mais consumidor. Junto aos autores, cabe a nós estimular o regionalismo, mostrando que é perfeitamente possível alguém se tornar o escritor de sua região, sem a necessidade de se tornar nacionalmente ou internacionalmente conhecido. Veja-se como exemplo, Pedro Paulo Filho, nosso autor, que se tornou o historiador de Campos do Jordão e que está, com mais de uma dezena de obras publicadas, perfeitamente realizado em seus ideais literários.

Perfil do Escritor

Aliás, um dos objetivos da Editora Vertente Ltda., é justamente criar pólos de escritores regionais por este Brasil afora, sejam eles poetas, cronistas, romancistas, historiadores ou o que mais forem. Nós, da Vertente, sabemos que o autor brasileiro é, por definição, um sacrificado. Assim, um de seus objetivos principais é fazer com que o escritor passe a ter um ganho ao menos digno e que compense o seu trabalho tanto do ponto de vista material quanto do ponto de vista intelectual. Encaramos o autor como um autêntico trabalhador. Tão trabalhador quanto qualquer outro profissional, seja um médico ou um ajudante de obras, uma vez que ele produz, que ele realiza, que ele transforma energia em produto. O autor transmuta energia intelectual em um produto palpável e extremamente útil, que é o livro. É, portanto um trabalho e, como tal, deve ser remunerado. Até o presente momento, o autor recebia das editoras uma importância definida como direitos autorais, mas que na realidade não é mais do que uma paga miserável por horas e horas de estafante desgaste mental. Nossa meta é proporcionar o acesso do autor aos ganhos editoriais com a publicação de suas obras, fazendo com que ele perceba no mínimo o que é justo por seu trabalho. E essa importância, esta sim, pode-se chamar de direitos autorais, ou seja, a remuneração proporcional percentualmente, às vendas obtidas com a publicação e comercialização do livro escrito, proporcional ao investimento material e intelectual que é feito em seu livro, num regime justo de parceria.

Nestes dois anos de existência, a Editora Vertente Ltda. Publicou, neste sistema de parceria editorial, 45 títulos de 43 autores, o que vale dizer que foram realizados no mínimo 43 sonhos. E isto, sem falar das mais de 100 obras que estão em fase de análise para publicação nos próximos meses.

Tal produção - efetivamente fantástica para uma editora brasileira nos moldes atuais - não significa que se publique qualquer coisa. Temos o cuidado de avaliar e analisar a obra em seu todo, não nos limitando apenas ao estilo ou à qualidade lingüística, mas sim tomando extremo cuidado com a idéia em si. Uma obra pode estar mal escrita mas conter uma idéia formidável. Para isso, temos um departamento que cuida do que os americanos chamam de cirurgia de texto, onde uma má frase é transformada numa boa sentença, um trecho mal estruturado é reconstruído e devidamente burilado do ponto de vista estético, lingüístico e estilístico, sempre respeitando ao máximo o pensamento do autor e procurando levar aos leitores um livro de qualidade que seja, efetivamente, uma fonte de informação e de prazer.Fim do texto.
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