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Ano 2 - Nº 19 - Ubatuba, 18 de Abril de 1999
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· A Ubatuba que queremos
    Eduardo Antonio de Souza Netto
    articulista@ubaweb.com

Praia de Iperoig - Foto: © Herbert José de Luna Marques

Caso Ubatuba continue a colocar as relações de poder nos exclusivos termos de amigos versus inimigos, a política do "nosso lado" versus o "lado deles", o município, cujos interesses deveriam estar acima das vaidades, das idiossincrasias e veleidades pessoais, não sairá deste atoleiro em que se encontra. O município precisa de um norte, precisa saber o que quer, onde quer chegar. Ubatuba precisa de um projeto que gere valores, que congregue e que crie sintonia não só nos que aqui vivem, mas também naqueles que sabem da importância que ela tem pelo fato de estar incrustada na última reserva da Mata Atlântica e dos riscos que isso representa, caso ocorra um mau direcionamento de sua inquestionável vocação turística. O nosso desenvolvimento, a geração de riquezas, o bem estar da nossa população depende, dentre outras coisas, disso.

A solução dos nossos problemas não se traduz unicamente em quem vai ocupar a cadeira (ou seria trono?) de prefeito, esta ou aquela cadeira de vereador. É uma redução estúpida que fazemos com o potencial de que dispomos para a solução dos nossos problemas. É delegar de forma absoluta, perigosa. É negar a existência da força, do poder de que dispõe outras instituições organizadas da sociedade civil na discussão, nos compromissos de se empenhar pelo desenvolvimento sem nichos de privilégios. É anular a possibilidade de se criar e ocupar os espaços para o exercício pleno da cidadania, que deve visar sempre o bem estar da maioria. É, enfim, abdicarmos de nossa cidadania pelo papel de servos.

Além disso, é fundamental não deixar que as ações dos governantes se circunscrevam unicamente no contexto da descomedida legislação de ocasião, especiosas e dos escaninhos burocráticos. É preciso que entendamos que os limites devam ser definidos também pela sociedade, por seus cidadãos. Para que isso se efetive, não é suficiente que nós, cidadãos, saibamos somente o que não queremos, é preciso que definamos o que queremos. Precisamos de um referencial para pensar e agir. O grau de democracia se mede também pelas possibilidades que temos de interferir em nossos destinos. Como já dissemos, eleger esse ou aquele não é o suficiente.
Outro aspecto importante a ser abordado é o papel da crítica e dos críticos que, atuando nesse contexto maniqueista de mocinho versus bandido, da turma de cá versus a turma de lá, acabam por escamotear, sob o manto da tal "crítica construtiva", a difamação, a leviandade e as generalizações apressadas. O oposto disso, podemos observar, por exemplo, num determinado artigo do arquiteto Renato Nunes, na imprensa local, que elogiava a ação de um dos nossos vereadores na condução da presidência da Câmara Municipal. Os maniqueus de plantão não devem ter gostado, pois a imagem do legislativo ubatubense que procuram disseminar é a pior possível. Esquecem que toda unanimidade, geralmente, é burra. Não sabem separar para distinguir, para fazer ver, este, sim, o verdadeiro sentido da crítica. Em generalizações apressadas, condenam a floresta a partir de determinadas árvores e com isso, acabam por denegrir a instituição esquecendo-se de que ela deve ser sempre preservada, pelo sentido fundamental que tem para uma sociedade que se quer democrática.

Importante em todas essas questões, não é ficarmos condenando esta ou aquela instituição, este ou aquele político, mas sim (e aqui entra a questão do limite e do referencial de condutas) fazê-los retornar aos retos caminhos de que se desviaram: o do bem estar social da maioria. Prefeitura e Câmara são meios, não são fins em si mesmos - são instrumentos que devem servir ao homem, à comunidade. E não há esse negócio de novos caminhos e outros slogans e símbolos vazios, estéreis. Os caminhos sãos os de sempre, e a caminhada encontra sempre seus obstáculos, todavia, o fundamental é saber para onde se está indo.

O bem estar da maioria de nossa população reside na definição a que chegaremos por consenso, da cidade que queremos para viver com dignidade, com padrões de vida que haveremos de conquistar. Precisamos de um projeto nesse sentido, ou seja, a antecipação do que pretendemos ser, precisamos de um plano de desenvolvimento que exija o envolvimento e o compromisso de todos. Enquanto isso não acontece, acabamos sempre decidindo pelo mal menor, porque não temos um referencial do que seja o melhor para nós. Em conseqüência disso, ficamos dando voltas em círculos e promovendo showzinhos e eventos medíocres porque não sabemos, ainda, desenvolver de forma racional, competente, a nossa vocação para o turismo e outras vocações que com certeza temos, mas deixamos ao sabor das conjunturas, como é o caso da pesca e da indústria náutica.

Agora, quanto aos políticos no poder, que saibamos exigir-lhes sempre que exerçam seus mandatos dentro da ética de responsabilidade, buscando sempre os resultados que irão consolidar este projeto da Ubatuba que queremos no próximo milênio.Fim do texto.
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