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Ano 1 - Nº 5 - Ubatuba, 15 de Fevereiro de 1998

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· O paraíso no deserto e o deserto no paraíso
Ricardo Yazigi
ryazigi@iconet.com.br

Sempre que tenho oportunidade, assisto a um canal de TV que pouquíssimas pessoas no Brasil têm acesso ou conhecimento. É o canal do Dubai. Para quem não sabe e quer saber, o Dubai é um dos sete emirados pertencente aos Emirados Árabes Unidos, cuja capital é Abu Dhabi.

Há vinte anos atrás, era um local deserto e inóspito. Depois de radicais interferências no meio, financiadas pela abundância de ouro negro existente no subsolo, o pequeno emirado transformou-se, provavelmente, numa das regiões mais desenvolvidas do mundo.

Numa das reportagens a que assisti, tive uma boa noção do que é um lugar onde o salário mínimo é de US$ 4.000 e um coletor de lixo ganha US$ 6.000 mensais. O antigo deserto deu lugar a um lindo oásis, que é a cidade do Dubai. A reurbanização da cidade transformou-a numa das mais modernas do mundo. O deserto virou um paraíso.

O Brasil talvez seja o país mais rico do mundo em belezas naturais. Sua flora e fauna enriquecem qualquer enciclopédia. Não há dinheiro no mundo que transforme

Dubai - Deserto Vista Aérea do Dubai Dubai Creek Golf Club
o Dubai em um Brasil. A imensidão de nosso paraíso ecológico é de fazer inveja a qualquer lugar do universo. No entanto, são poucos os brasileiros que sabem disso, a começar pelos nossos governantes. Com constantes desmatamentos, queimadas e ocupações inadequadas, muitas áreas estão perdendo suas características naturais e transformando-se em locais desérticos. Além disso, as leis existentes de uso e ocupação do solo são desatualizadas e inadequadas, favorecendo a destruição de um município inteiro.

O caso do litoral norte de São Paulo é típico. Ocupações desordenadas e serviços de infra-estrutura precários vêm transformando a paisagem, comprometendo as belezas naturais. É coisa de país pobre, de espírito, é claro.

Não temos dinheiro, nem educação, mas temos belezas naturais. O Dubai não possui grandes belezas naturais, mas com dinheiro, as tem fabricado. Podemos fabricar dinheiro com a exploração turística de nossa natureza, mas para isso, é necessário, em primeiro lugar, preparar nosso povo com informações e educação. E que isso se faça o mais rápido possível, sob risco de vermos nosso paraíso se transformar em deserto.Fim do texto.

· Poesias
Settembrini
articulista@ubaweb.com

 

Cotidiano

Oceano, cenário
desta segunda
ensolarada,
entardecendo
burocrática.
Paisagem martírio,
alimento mórbido
da alma acidiosa.

Barcos circunavegando
com lemes tímidos
na vizinhança da praia
longe das tempestades.

Fomos passando ao largo,
não vieram as tormentas
e ficamos aqui, mordendo
o cotidiano e a carregar
os ossos do passado.
Agosto/97Fim do texto.

 
Elegíaco

Condenado a recordar
sem local ou hora.
Escavador de ruínas
a juntar pedaços
esparsos na areia
na cidade à beira-mar.

Colecionador de despedidas
em eternas vernissages
nos salões da alma.

Outro dia brincava
de se lembrar e rir
e varou a madrugada
em bebedeira e algaravia
com seus fantasmas.
Nunca mais acordou criança
e não mais havia jeito
para um velho torto,
medroso e chato.
Outubro/97Fim do texto.

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