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COLUNISTA
Evely Reyes
11/07/2012 - 07h00
E Sheng Li se foi...
 
 

Ao olhar da varanda do quarto pude constatar o corredor lá em baixo manchado de sangue e ela quieta, deitada próxima ao portão.

Era muito cedo, o dia mal começara e até os pássaros estavam em silêncio.

Chamei seu nome, mas não esboçou nenhuma reação, me levando a crer que o que eu mais temia havia acontecido.

Ela sofrera uma segunda hemorragia e apesar de ser uma cachorra forte, não conseguiu resistir, pois uma semana antes apresentara esse mesmo quadro sintomático. O sangue que saíra de seu focinho podia ser encontrado pelo corredor, quintal, lavanderia e demais dependências da casa.

Medicamentos fortes e uma dieta especial foram suficientes da primeira vez para que ela reagisse bem nos seis dias que se seguiram e que muitas vezes acontece com aqueles que estão próximos da partida.

Então ela se foi, tão linda que era, apesar da personalidade difícil e do temperamento arredio. Eu a compreendia e respeitava!

Nunca manifestou desejo de ser simpática com ninguém e sua fama concretizou-se certa vez, em que avançou num amigo meu que já era conhecido seu e que de modo brusco adentrou ao sítio em que morávamos.

Provocou-lhe alguns arranhões e um imenso susto em todos que tomaram conhecimento do ocorrido. Desse dia em diante, antes da chegada de qualquer pessoa eu a prendia, a fim de evitar consequências desastrosas.

Sheng Li me dava a impressão de ter características muito fortes de seus ancestrais e às vezes parecia uma loba, no seu modo de agir e de caminhar.

Tinha comportamento meio selvagem e agressivo, sempre estava atenta a algum ruído e jamais chegava a relaxar de modo completo, como se o instinto lhe avisasse que um perigo poderia surpreendê-la a qualquer tempo.

Mas, tinha seu lado carinhoso comigo, não dispensava um abraço ou um afago no pescoço e adorava que eu jogasse sua bolinha predileta para ela ir buscar.

Na primeira vez em que a vi, no mês de janeiro de 2009, já era muito arisca, contava com três meses e não passava de um filhote desnutrido, de músculos atrofiados, assustada, que andava com muita dificuldade.

Apesar de ser contrária à comercialização de animais, fiquei penalizada com a situação da cachorra, que mal conseguia ficar em pé dentro da gaiola de um Pet Shop onde parecia ter estado desde seu nascimento.

Levei-a para casa e uma nova vida teve início para aquele ser que até então só recebera maus-tratos.

Alimentação, carinho e cuidados necessários foram suficientes para o fortalecimento de seus músculos e o consequente desenvolvimento.

Registrei sua chegada ao sítio e a forma como foi crescendo, mas no mês de janeiro de 2010, após ter sido roubada não mais tive acesso às fotos e filmes da máquina digital, do celular e do arquivo do computador. Todas se perderam com os assaltantes!

No instante deste horrível episódio ela foi muito valente e embora tivesse pouco mais de um ano atacou um dos três meliantes, que imediatamente apontou o revólver para sua cabeça.

Não morreu porque consegui prendê-la entre meus braços e evitar maiores tragédias, mas seu trauma não passou, porque desde então nunca mais pode ver rapazes altos de bermuda e boné.

Ano passado esteve à beira da morte, com feridas pelo corpo todo, inapetência, unhas muito crescidas e todos os sintomas da leishmaniose.

Mais uma vez consegui salvá-la e com o passar dos meses ficou tão forte que acreditei estivesse definitivamente fora de perigo.

O pelo voltou ao normal, engordou e sua inteligência fez com que roesse as próprias unhas que a incomodavam para que então começasse a correr pelo quintal como se nada houvesse acontecido.

Gostava dos apelidos que eu lhe dava e atendia por qualquer um deles, sempre pronta para brincar, com a bolinha predileta que lhe dei de presente.

Nos últimos dez meses passou a conviver com uma outra cachorra que resgatei da rua com 38 dias e isto lhe deu entusiasmo e energia, com dias e noites muito animados.

Fiz o que pude por ela e o que ela permitiu que fosse feito!

Por uma felicidade, consegui encontrar um vídeo que foi editado no mês de julho de 2009, no sítio já mencionado, onde ela com 09 meses brincava sem cansar com a poodle de nome Missy.

Ficam as inúmeras boas lembranças dessa grande amiga que se foi e esta hora deve estar no céu das cachorros!


Nota do Editor: Evely Reyes Prado, reyesevely@yahoo.com.br, paulistana, formada em Direito pela PUC-SP, morou em Ubatuba por vinte anos, onde aposentou-se pelo Tribunal de Justiça - SP e foi integrante da APAUBA - Associação Protetora dos Animais de Ubatuba. É autora de contos em Antologias diversas, e dos livros “Tudo Tem Seu Tempo Certo” e “Do Um ao Treze”, encontrados através do site www.scortecci.com.br.
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