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COLUNISTA
Evely Reyes
29/08/2012 - 15h00
Helena Calicchio
 
 
 
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  Rosaria e Helena, em 1956, Praia Grande, SP.

Tenho inúmeras boas lembranças de minha mãe Helena, que me criou e sinto saudade, porque nosso contato sempre foi contínuo, mesmo no período em que morávamos em cidades diferentes.

Era um prazer imenso estar com ela, pois transbordava alegria e carinho, além de inteligência e cultura.

Desde pequena ela gostava de ler e contava que meu avô ao ver acesa a luz de seu quarto até altas horas, sabia que ela estava a devorar os mais variados livros e a repreendia, dizendo que a madrugada era feita para dormir.

Não importava se a narrativa era ficção, uma trama policial ou romance, pois o fundamental era que fosse um livro bem escrito. Talvez, por isso, ela soubesse contar aquelas lindas histórias, todas as noites, ao me colocar na cama para dormir. Eu era pequenina e controlava o sono para nunca adormecer sem escutar o final da trama.

Uma das coisas de que eu gostava bastante era sentar ao lado do piano que havia no apartamento, para ouvi-la tocar. Ele tinha um som excelente, pois era um Schwartzmann, mas independente de qual fosse o piano ou o estilo da música, minha mãe os impregnava de muito sentimento e do seu jeito pessoal de se manifestar. Era uma delícia.

Esse seu lado musical me ensinou também velhas marchinhas de carnaval, vários boleros, os tangos do Gardel e a música brasileira de boa qualidade.

Na época de adolescente comecei a me transformar numa grande apreciadora de filmes antigos e a conhecer os nomes da maioria dos artistas de Hollywood, pois nos finais de semana muitas vezes ficávamos até bem tarde, assistindo à televisão. Ela era uma cinéfila que havia despertado em mim a paixão pelo cinema.

Aos domingos, dávamos boas risadas e conversávamos sobre os mais incríveis assuntos nas ocasiões em que resolvíamos fazer massa de nhoque ou de talharine. O trabalho se tornava prazeroso e o almoço ficava divino.

Nesse período, meus amigos do colégio e alguns vizinhos queridos iam para lá, na sexta-feira e no sábado e o apartamento ficava cheio de gente, em meio a muita música, torneios de buraco e bastante alegria. Tudo era motivo de contentamento porque a vida para mim era muito boa e não havia motivos para nenhuma tristeza.

Minha mãe participava dessa jogatina, assim como meu pai e nós tínhamos inclusive um caderno oficial, com todas as disputas e as duplas participantes. Nunca jogávamos a dinheiro e sim pelo prazer de competir e ganhar. Foi um período em que parecíamos ser uma enorme família.

Alguns anos depois, consultando amigos e fazendo uso de nossa memória, eu e minha mãe resolvemos criar uma coletânea de provérbios em ordem alfabética, no português do Brasil e de Portugal, porque nós duas éramos apaixonadas por ditados populares e os usávamos no cotidiano. Foi uma pesquisa interessante e agradável de se concluir.

Helena era irmã de minha mãe de sangue, Rosaria, que por muitos anos ficou internada e veio a falecer quando eu contava com cinco anos de idade. Algum tempo depois que nasci, precisei que ela cuidasse de mim e ela o fez como se sua filha fosse.

Mulher de personalidade forte, íntegra, sabia amar de forma intensa e vivenciava seus dias com espontaneidade, embasada na alegria e na compaixão. Mesmo adulta, eu adorava deitar a cabeça no seu colo, pois o carinho era sua marca registrada.
Se por aqui ainda estivesse, teria completado 86 anos de idade no último dia 26 de agosto.

Saudade gostosa, minha querida mãe, dos nossos muitos dias compartilhados!


Nota do Editor: Evely Reyes Prado, reyesevely@yahoo.com.br, paulistana, formada em Direito pela PUC-SP, morou em Ubatuba por vinte anos, onde aposentou-se pelo Tribunal de Justiça - SP e foi integrante da APAUBA - Associação Protetora dos Animais de Ubatuba. É autora de contos em Antologias diversas, e dos livros “Tudo Tem Seu Tempo Certo” e “Do Um ao Treze”, encontrados através do site www.scortecci.com.br.
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