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Crônicas
12/12/2006 - 12h07
Minha bolsa alcânave
Luiz Guerra - Agência Carta Maior
 

Não me recordo se já contei aqui por que troquei minha bolsa alcânave por uma mochila de dez tostões, comprada um dia desses no camelô de miudezas mais antigo de Marechal Hermes. E com direito a brinde: um guarda-chuva de fabricação chinesa, que, pelo jeitão dele, deve durar até a primeira rajada de vento mais forte. (Querem saber o preço só do guarda-chuva? Um real.)

Falei em tostões, mas o fato é que paguei cinco reais pela mochila, uma verdadeira fortuna para este cronista de internete, atualmente devoto incondicional de Santa Edwiges.

O problema com minha bolsa alcânave - ou de cânhamo, ou semelhante ao cânhamo, como quiserem - é o pouco espaço que ela tem para obras literárias. E não dá mais para sair de casa sem o meu biodiesel livresco, no encalço de bons ouvintes, para divulgar os nossos melhores autores e fazer a apologia do hábito de ler (devem lembrar que em "Sebo de boteco" mencionei que o brasileiro lê menos de dois livros por ano, um absurdo). Como pregar com o exemplo, exigência vieirista e nietzschiana, sem deixar que os transeuntes me vejam, aqui e ali, encornado nas páginas de um bom livro, ou folheando três ou quatro ao mesmo tempo para chamar a atenção?

Portanto, como anunciado nos alto-falantes de estádios durante as partidas de futebol, sai a bolsa alcânave e entra a mochila de dez tostões. A primeira continua sendo o grande barato que sempre foi, mas para carregar livros não serve.

No entanto não é justo que ela vá para o fundo do guarda-roupa sem ganhar uma crônica de presente. Devo-lhe muitos momentos felizes, sobretudo quando ainda morava no Jardim Carioca e freqüentava o Princesinha da Ilha, um bar-restaurante à beira do calçadão do Cacuia, onde só passa mulher bonita. Quantas e quantas não conheci por causa de minha bolsa alcânave... Eu ficava invariavelmente à porta do estabelecimento, curtindo a grande movimentação diuturna desse bairro insulano, e as belezuras sempre paravam, curiosas, tagarelas, querendo botar a mão (na bolsa, na bolsa...), fazendo mil comentários entre si. Enchiam-me de perguntas: Onde comprou? Foi caro? Tinha muitas? Eles fazem em quantas vezes? Tinha também sem ser a tiracolo? Não é apologia da maconha? É coisa do Fernando Gabeira? Dá cadeia? Dá morte?

Matei muito homem de inveja com aquele mulherio todo à minha volta, mas confesso humildemente que não comi ninguém, não por causa disso. Os grupos de mulheres que paravam para examinar minha bolsa alcânave formavam-se e desfaziam rapidamente, como se eu estivesse atrás de um tabuleiro fazendo demonstração de artigos femininos. Como paquerar todas elas? No máximo, troca de e-mails e números de telefone, mas nunca de endereços, e muito menos marcação de encontros. Está-se vendo que não queriam nada com o dono da bolsa. Fosse aquele um tempo de vacas magras, como agora, e teria levantado uma grana de respeito leiloando a coitada no meio daquela turma frenética.

Águas passadas.

Vá para o seu armário, querida bolsa. Aqui fica a crônica, e certamente todo o carinho que minhas leitoras sentirão por você. E, sobretudo, não queira nenhum mal à mochila de dez tostões, que não é mesmo uma usurpadora. Ela não fazia a menor idéia da sua existência, e só entra em cena por uma boa causa.

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