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COLUNISTA
Eduardo Souza
19/11/2007 - 10h11
Cemitério dos ubatubanos
 
 

Esta cidade é mesmo a terra do nonsense, do estrambótico, do pitoresco. Há poucos dias, tivemos mais um exemplo bem peculiar: a extremosa ação da administração municipal em, inteligentemente, sapecar sua rubrica burocrática em determinados túmulos do cemitério da cidade. Pintaram um XIS deste tamanho nos túmulos - uma espécie de "Comunique-se" oficial - para intimar os inadimplentes, os negligentes e os irregulares. Tive certeza, quando fiquei sabendo, que era mais um estouvamento, mais um caso típico a entrar nos anais, na crônica ubatubense. Tragicômico.

Depois fiquei sabendo que no túmulo de meu avô também sapecaram o tal XIS. Com mil saguaritás! Ô Josué! Não tá contigo o documento de concessão em caráter perpétuo da última pousada do vô? Será que esse meu primo, com esse negócio de buscar a onda perfeita, esqueceu da manutenção e conservação do jazigo? Assunto de família a ser lavado em outro local. Depois ele diz que eu é que sou a ovelha negra da família... A sorte da administração municipal é que minhas duas saudosas tias solteironas também estão lá sepultadas, senão ia ser um bafafá dos...

Bem, deixa pra lá. Voltemos à pichação. Tenho a impressão de que o mínimo que a administração pública pode fazer por sua comunidade, a que pretensamente diz representar, é respeitar-lhe a cultura, a religiosidade e a memória. Há certas coisas que transcendem a mera funcionalidade. Os cemitérios são um exemplo disso. Aos olhos do administrador, pode não passar de apenas um bem público com arruamento e lotes, de uma prestação de serviço público, que deve ser onerada com taxas e procedimentos burocráticos de praxe. Já para a comunidade, o cemitério tem um sentido transcendental, que vai além, nos dois significados do termo. Para a história, os cemitérios são como que fiéis depositários de seus autores - os que fizeram o passado dessa comunidade e estão presentes em cada um de nós ubatubenses, caiçaras.

Mesmo que os caiçaras sejam uma minoria nesta nova Ubatuba, seria de bom-tom respeitá-los, evitar ações manu militari na condução de questões delicadas como essa. Não que esteja de acordo com famílias que descuidam da conservação de seus jazigos, no entanto, isso não desculpa atitudes atabalhoadas de agentes e servidores públicos - mesmo porque também lhes pagamos os salários e justificamos-lhes a própria existência. Já imaginou se pudéssemos pespegar um XIS no peito dos que fossem prevaricadores ou ímprobos?...

O cemitério da cidade é tradicional, um monumento histórico, como é, por exemplo, o Casarão do Porto, que foi adquirido de particulares, tombado e não é onerado por impostos. Aliás, a não conservação do Casarão é também um desrespeito para com a nossa história. Tenho cá uma sugestão: Vejamos doravante esse cemitério não só pelas questões e demandas urbanísticas do presente e do futuro, mas principalmente pelo seu sentido mais profundo, que transcende a miopia burocrática presente. Por que não chamar as famílias ubatubenses e isentá-las de taxas e dar a elas o usucapião dos lotes, das sepulturas, em caráter definitivo? Tá, sei que bens públicos não são suscetíveis de usucapião, mas por que não tombar o cemitério, considerar essas famílias como legítimas concessionárias dos lotes e não lhes encher mais o saco com cobranças e atitudes estapafúrdias e constrangedoras? Quanto à manutenção e conservação dos jazigos, não custa nada investir um pouco em diplomacia e deixar de lado punições e outras manifestações do poder de polícia do Executivo.

A propósito do assunto, cito Eugen Rosenstock-Huessy: "...por ocasião de um funeral, da inauguração de um monumento, da redação de uma biografia, o homem que viveu faz com que outras pessoas pronunciem e lembrem seu nome. Sua pessoa torna-se voz em livros, discursos e celebrações. Um homem ter feito um nome para si significa literalmente ter feito com que outras pessoas falem dele e pensem nele! Por intermédio dos que a registram, uma pessoa dirige-se à posteridade, ao mundo". Então, eu digo: não permitam que calem a voz de nossos antepassados.


Nota do Editor: Eduardo Antonio de Souza Netto [1952 - 2012], caiçara, prosador (nas horas vácuas) de Ubatuba, para Ubatuba et orbi.
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