Na sala de espera de um dos assessores do candidato Já Ganhou Estourado e no meio de um monte de revistas de carros importados, encontrei uma que falava sobre atrações turísticas. Havia uma imensa reportagem sobre a nossa vizinha cidade de Cunha. Eles não falavam que Cunha, em 1974, foi o último município do estado de São Paulo a receber os sinais de televisão. Falavam da importância da Cerâmica e do Festival do Pinhão. Depois sobre São José do Barreiro e sua arquitetura. Depois sobre Queluz e o Festival da Moranga e sobre o Museu Malba Tahan. Tudo isso numa revista de primeira qualidade. Se a gente lembrar que a TV Vanguarda anunciou Cunha o inverno inteiro devemos reconhecer que eles entenderam primeiro que Ubatuba a importância daquele veículo recém implantado no município. Pela Vanguarda também pudemos acompanhar como eles venderam diariamente o inverno em Campos de Jordão. Os engarrafamentos de trânsito e as ausências de semáforos foram vendidos como terapia anti-stress. As imensas florestas homogêneas de pinnus caribea foram vendidas como exuberante natureza. De qualquer forma, parabéns para Cunha, para Queluz, para Campos de Jordão e para a TV Vanguarda. Sempre me lembro dos filmes americanos que mostram aquelas cidadezinhas inventando os motivos mais ridículos para atrair turistas, desde o dia em que a marmota abandona a toca, até a coleta dos ovos de borboletas, tudo vira atração e funciona como opção de renda. Nossos vizinhos são mais criativos. Paraty criou o Festival Literário. Ilha Bela o Festival da Vela e o receptivo de navios de cruzeiro (na verdade eles são "de dólar"). São Sebastião o Festival de Filmes Ecológicos. Caraguá cria um evento atrás de outro. Até São Luiz do Paraitinga dá baile em nós (e com marchinhas). E Ubatuba? Tirando os eventos judiciais e policiais envolvendo prefeitos, o evento mais forte e constante de Ubatuba é a migração de desvalidos eleitores. De resto vivemos da exploração do turista e da cafetinagem da natureza que Deus nos abençoou. Que me desculpem pela palavra e a minha ignorância, mas não conheço outro termo que defina melhor aquele que explora em benefício próprio a beleza e o prazer que não lhe pertencem e não dá nada em troca. Doze anos atrás um candidato a prefeito, num ato de molecagem, mandou alguns amigos danificarem a torre de retransmissão da Rede Globo para impedir o pronunciamento de um adversário. Os autores da proeza ganharam 15 dias de férias em Fortaleza, e Ubatuba teve o seu nome riscado da lista das boas vontades das emissoras de televisão. O resultado é o que vemos: notícias de Ubatuba, só as policiais. Engarrafamento em Campos de Jordão é terapia. Festival Gastronômico em Ubatuba só em matéria paga. Se a previsão é de sol, é para todo o Litoral Norte. Se for de chuva, é só para Ubatuba. Não fazemos eventos, não geramos mídia positiva, não temos dinheiro, não vemos futuro. Tem razão o meu amigo Van Grog quando diz em suas Novas Interpretações para Antigos Ditados "Quem ama o feio, é porque o bonito não lhe aparece" ou ainda melhor "Quem semeia eventos colhe prosperidade".
Nota do Editor: Carlos Augusto Rizzo mora em Ubatuba desde 1980, sendo marceneiro e escritor. Como escritor, publicou "Vocabulário Tupi-guarani", "O Falar Caiçara" em parceria com João Barreto e "Checklist to Birdwatching". Montou uma pequena editora que vem publicando suas obras e as de outros autores.
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