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Opinião
09/07/2008 - 12h33
O Estado e as massas
José Nivaldo Cordeiro - Parlata
 

No capítulo que fecha a primeira parte do livro A REBELIÃO DAS MASSAS, Ortega y Gasset alertava que o grande perigo é o Estado moderno, pelas seguintes razões: 1- O Estado, na origem, foi criado pelas minorias egrégias, que tinham completa clareza da razão de ser de seu poder. Essas minorias o compreendiam como um instrumento que não poderia ser desconectado dos propósitos últimos da existência humana, da descoberta das virtudes e do saber filosófico. Platão, no mundo antigo, é o paradigma de teórico do Estado que se impõe como força civilizadora e ordenadora das massas. A lei positiva passa a ser vista como a expressão da lei natural. Agostinho tem essa mesma função nos tempos cristãos, ao escrever o livro CIDADE DE DEUS. Agora, na modernidade, o Estado foi teorizado por Rousseau e seus acólitos, os profetas do homem-massa; 2- O Estado moderno torna-se uma máquina de formidável eficiência. A fonte dessa eficiência é a mesma que deu eficiência às técnicas: a investigação científica e filosófica, o saber superior que sempre foi inacessível ao vulgo. A desconexão da origem e função do Estado de seu fundamento filosófico – diria mesmo metafísico – faz com que as massas, tornadas governantes, enxerguem apenas o lado “operacional” do mesmo, sem atentar para as limitações morais e seus propósitos superiores; 3- O Estado assim compreendido torna-se um instrumento de “ação direta”, de pura violência das maiorias massificadas contra as minorias seletas.

Por isso que o Estado, tomado pelo homem-massa, caminha para a inexorável burocratização e para a asfixia de toda espontaneidade da existência. Pior, por não compreender o que é o Estado, os representantes do homem-massa no comando não hesitam em usá-lo para todos os propósitos, sendo aqueles ligados às funções de polícia (polícia ela mesma, fiscais e funções assemelhadas) requisitados sem a menor cerimônia e sem qualquer limite. É o reino do Big Brother. A sociedade assim moldada torna-se como uma prisão, que mata a criatividade e sufoca as pessoas diferenciadas. Ortega adverte: “O estatismo é a forma superior que tomam a violência e a ação direta constituídas em normas. Através e por meio do Estado, máquina anônima, as massas atuam por si mesmas”.

Essa praga tomou conta do planeta. Os EUA, por exemplo, já têm mais de 2% de sua população masculina adulta atrás das grades (o Estado da Flórida já tem 5%!), em curva ascendente. A irracionalidade e a imoralidade desse fato só é compatível com o ímpeto legiferante e policialesco do homem-massa no poder.

No artigo anterior mencionei o episódio envolvendo o rei de Espanha, Juan Carlos, e o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, no famoso Cala-te! Volto a ele por ser emblemático. Depois de passado o episódio e tendo ficado evidente sua enorme derrota moral, Chávez foi aos meios de comunicações de massa para dizer a toda gente que ele era mais legítimo que o rei porque fora eleito pelo voto popular. Deixando-se de lado o patético da afirmação, fica claro no episódio que esses governantes, representantes típicos do homem-massa, comunicam-se na descendente, falam com e como os subalternos da espécie. Para eles, não há instância superior. O voto torna-se assim a anulação da legitimidade, pois passa a ser a expressão das paixões mais perversas, objeto da barganha mais primitiva, um troco que dá o homem-massa eleitor para aqueles líderes que se propuserem a lhe acariciar o ego e a satisfazer seus apetites mesquinhos. Um chefe de governo, nessa situação, torna-se o oposto de um estadista: torna-se um mero chefe da multidão.

Quero aqui sublinhar que é um engano pensar que a elite em termos orteguianos se confunde com a elite dirigente estatal. As tais minorias egrégias emergem onde pulsa vida: na família, nas igrejas, no meio do trabalho, nas escolas e também na classe dirigente estatal. Somente quando, no meio vital, essa minoria se retrai é que o comando da coisa pública – o quem manda – passa para os subalternos. Aí a tragédia se anuncia, pois a máquina mortífera do Estado passa a responder aos mais baixos anseios da humanidade. Assim, torna-se uma questão de tempo que aventureiros como Hitler, Mussolini e Fidel realizem seus propósitos destrutivos.

A atualidade desse livro não precisa ser sublinhada, pois vivemos inquestionavelmente o império do homem-massa no presente momento.


Nota do Editor: José Nivaldo Cordeiro (www.nivaldocordeiro.net) é executivo, nascido no Ceará. Reside atualmente em São Paulo. Declaradamente liberal, é um respeitado crítico das idéias coletivistas. É um dos mais relevantes articulistas nacionais do momento, escrevendo artigos diários para diversos jornais e sites nacionais. É Diretor da ANL – Associação Nacional de Livrarias.

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