(à maneira de Fernando Pessoa)
Da história recente de Ubatuba não podemos nos esquecer que, Ciccilo Matarazzo foi o grande incentivador da implantação do IPTU como fonte de recursos para a administração municipal. Claro que naquela época foi a melhor solução para o município, e a partir da década de 70, começou a significar a redenção da cidade. Se num primeiro momento estender a área tributável, inclusive com doação de lotes, o IPTU conseguiu se manter como a melhor alternativa, a continuidade do remédio passou a gerar algumas doenças. Qualquer um de nós sabe muito bem que cada remédio tem sua posologia, e que muitos deles passam a provocar a doença que combatem quando exageramos na dose. Estender a área urbana para aumentar a arrecadação foi remédio até um certo ponto, depois disso, não tivemos nenhum prefeito com a capacidade de frear o aumento da ocupação territorial de Ubatuba. Nenhum dos prefeitos soube entender a necessidade de ampliar a malha tributável como alternativa de crescimento da arrecadação. Hoje temos 54 pontos de invasões em áreas de risco ou áreas de preservação ambiental e o nosso índice de desenvolvimento humano, beira a miserabilidade. Em pleno 2004, qualquer pessoa que ainda acredita somente no IPTU como a redenção de Ubatuba beira a alienação. Qualquer candidato ao cargo de prefeito que defenda essa idéia em detrimento à valorização humana dos moradores, beira a insanidade. Pior que neste pleito temos dois candidatos que seguem por esta linha, são faces da mesma moeda, se um é notório pela administração cinzenta permeada pela omissão, o outro vive dando cores novas para roupas velhas, se um é P&B o outro é Color. Se um permite as invasões, o outro promete regularizá-las via satélite para melhor taxar. Enquanto isso, andando pelos bairros, só vemos aumentar a miséria. Andando pela cidade só encontramos empresários e comerciantes mais preocupados em se manterem vivos do que em investir. Olhando o panorama nacional, constatamos as inúmeras oportunidades que passam a quilômetros de Ubatuba. Na cartilha da Amarribo "O combate à corrupção nas prefeituras do Brasil" chama atenção um dos sinalizadores da corrupção num município: o baixo índice de desenvolvimento humano. O IDH é um instrumento criado pela ONU para definir suas políticas e avalizar investimentos. Qualquer instituição séria que deseja colocar dinheiro num lugar ou num projeto, mesmo que seja a fundo perdido, antes consulta o IDH para melhor avaliar o risco do investimento ou a conseqüência de se doar qualquer dinheiro. Como já disse, baixo IDH é sinal de corrupção no governo municipal. Analisar, sem partidarismos, quais as propostas que o candidato tem para a valorização humana dos moradores é um bom começo na busca do voto verdadeiramente útil. Construir obras vazias nas vésperas das eleições já vimos que não adianta nada. Prometer uma revolução patrocinada por empreiteiros, indica o mesmo caminho do anterior. Além do mais de onde virá o dinheiro extra se as instituições estrangeiras nos sinalizam como área de alto risco? Antes devemos resgatar a dignidade do nosso povo, dar garantias de empregos e oportunidades para os nossos jovens, estancar o inchaço populacional, permitir o aumento de renda média e trabalhar com honestidade no reencatamento de Ubatuba. Votar é obrigatório, vigiar os vereadores e prefeito também é nossa obrigação, nossa única opção é escolher se queremos alguém que precisaremos vigiar 24 horas por dia, ou alguém que poderemos vigiar uma vez por mês.
Nota do Editor: Carlos Augusto Rizzo mora em Ubatuba desde 1980, sendo marceneiro e escritor. Como escritor, publicou "Vocabulário Tupi-guarani", "O Falar Caiçara" em parceria com João Barreto e "Checklist to Birdwatching". Montou uma pequena editora que vem publicando suas obras e as de outros autores.
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