”É como um ovo de serpente. Através da fina membrana, pode-se ver um réptil inteiramente formado” (Dr. Hans Vergerus para Abel Rosenberg em “O Ovo da Serpente”, de Ingmar Bergman) No primeiro texto, vimos que uma das táticas dos ditadores é sufocar qualquer tentativa de discordância, apresentando um bode expiatório, que no caso da Alemanha foram os judeus. Mas também foram perseguidos os homossexuais e ciganos. Além da mobilização das forças policiais oficiais, mobiliza grupos paramilitares que, pelo fato de não usarem uniforme ou não serem cadastrados, fica mais difícil as vítimas se defenderem devido à dificuldade de identificação dos possíveis agressores. Também fica mais difícil o controle da violência e identificação dos autores. Geralmente os poderosos arregimentam essas milícias entre os grupos miserabilizados pela própria ação de quem detém o poder. Outros grupos que tem sido cooptados são os jovens, devido a sua busca de prazer e de adrenalina em atitudes onde podem demonstrar a sua força, o seu poder e a sua auto-afirmação. Foi esse quadro que vimos na Câmara Municipal de Ubatuba na sessão de 07/10. Como havia sido divulgado que o deputado Clodovil Hernandes iria fazer um pronunciamento, o que vimos foi a manifestação ruidosa de um grupo, tentando impedir a fala do deputado e a favor do prefeito. A Polícia Militar demorou muito tempo a tomar uma atitude contra os manifestantes. A quem interessa isso? O próprio Tuta, de cabelos brancos, estava do meu lado e usava expressões que podem ser tipificadas como preconceituosas e sujeitas à punições de acordo com a lei. Uma amiga comum admoestou-o a não continuar com essa atitude. Será que é esse tipo de educação que transmitiu ao filho candidato, que é (ou era) do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente? E se diz que os adolescentes não tem limites... Será que é um problema só dos adolescentes ou de uma sociedade que não prima pela ética e que, dessa maneira molda o comportamento dos adolescentes. Vale registrar que uma senhora, a Kátia, se manifestava silenciosamente com um cartaz pedindo a anulação das eleições devido às inúmeras irregularidades. Muitas pessoas foram testemunhas da atitude de um candidato que fazia boca de urna ostensiva na Escola Deolindo e que, a polícia não deteve mesmo tendo sido denunciado. Por outro lado, uma senhora que já havia votado solicitou um adesivo à irmã do Maurício, que foi detida ao atender o pedido. Como se vê, houve dois pesos e duas medidas. Grande parte desse grupo era da região norte do município. Pude identificar algumas pessoas do Cambury e do Ubatumirim e muitos funcionários comissionados. Todo mundo sabe da dificuldade que o moradores dessa região tem para se locomover até o centro, principalmente à noite. Quem garantiu o deslocamento desse grupo? O que o Clodovil fez, educadamente, foi apresentar um balanço de suas ações em favor de Ubatuba e as dificuldades que tem encontrado. Para isso, solicitou a formação de uma comissão para garantir as verbas destinadas à Ubatuba. Entre as ações, está a verba para o saneamento básico do Sesmaria e a duplicação da BR-101, no trecho compreendido entre os trevos da praia Grande e Indaiá. Aproveito para solicitar ao Clodovil que, nessa obra, inclua a iluminação (muitas pessoas, pedestres e ciclistas trafegam pelo acostamento e tem sido atropelados); duas circunscrições (balões na linguagem popular) que permitam o acesso mais seguro ao bairro da Pedreira. Vale lembrar que o Executivo municipal, em anos passados, reclamou à direção da Escola Estadual Deolindo de Oliveira Santos pelo fato do professor de Filosofia ter acompanhado seus alunos à Câmara Municipal para se manifestarem sobre o direito ao passe escolar e sobre as condições de transporte, atitude que consta da metodologia da formação do cidadão e amplamente amparada pela Constituição e pela Lei das Diretrizes e Bases da Educação. Como se vê, são dois pesos e duas medidas. Na internet tem sido divulgado uma mensagem para que não nos esqueçamos do holocausto e do nazismo, para que defendamos os valores democráticos. Para bom entendedor, meia palavra basta. Rui Alves Grilo ragrilo@terra.com.br
Nota do Editor: Rui Alves Grilo é professor em Ubatuba (SP).
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