“Ninguém é tão burro quanto a soma de todos nós”. Outro dia escrevi sobre a “asinidade estratégica”, uma curiosa situação que faz com que pessoas inteligentes tomem decisões burras. Diz a sabedoria popular que quando discutimos problemas em grupo as idéias ficam mais claras, mais pontos de vista surgem, mais rica fica a tomada de decisão, não é? Mas não é isso que tenho encontrado por aí... Você já foi a uma reunião de condomínio, por exemplo? Já viu o que acontece quando o grupo tenta chegar a um acordo? Viu quanto tempo é perdido? Viu o volume de picuinhas que é discutido? Até que a turma cansa e acaba optando pela solução consensual, na maioria das vezes pelo NÃO fazer... É assim que o homem funciona em grupo: existem diferenças de percepção gigantescas e buscar o consenso acaba provocando o nivelamento por baixo. E quem insistir na defesa de um ponto de vista contrário ao consenso arrumará um monte de inimigos e nunca mais terá paz. Será rotulado. E cada vez que der uma idéia ela será recebida com desconfiança pelo grupo pois “veio daquele maluco, daquele inconseqüente, daquele irresponsável”. Se individualmente o homem não gosta de mudanças, quando está em grupo ele odeia. Encontrei uma das explicações para a asinidade estratégica em Warren Buffet, um dos maiores bilionários da atualidade, que descobriu o que ele chama de “imperativo institucional”, uma força que impele as pessoas a um comportamento não racional no trabalho. Buffet define essa força em quatro partes: 1. Como na primeira lei do movimento de Newton, uma instituição ou empresa resistirá a qualquer mudança na direção para onde ela está indo. Ameaças à zona de conforto são automaticamente repelidas, mesmo inconscientemente. Ninguém gosta de mudanças. 2. Da mesma forma que o trabalho se expande para preencher o tempo disponível, uma grande variedade de projetos materializa-se para consumir recursos adicionais. É só aparecer algum dinheirinho extra que surge uma idéia para consumi-lo. Igualzinho na minha casa... 3. Qualquer idéia que venha do líder, por mais imbecil, será rapidamente suportada por relatórios e argumentos de subordinados. Asinidade estratégica é contagiosa, principalmente se vem do chefe... 4. O comportamento de outras empresas – principalmente concorrentes - estejam elas expandindo ou demitindo, será cegamente imitado. É a técnica do eu também. A racionalidade não tem vez diante da asinidade estratégica. A asinidade estratégica é resultado do processo de tomada de decisão das pessoas, que é sempre emocional. Pessoas pensam e agem a partir do instinto de sobrevivência, focadas em interesses particulares e de olho no outro. Vivem apavoradas com a possibilidade de perder, de errar, de não fazer o “melhor negócio”. Essa atitude quase sempre as coloca em conflito com os interesses da empresa, criando um estado permanente de hipocrisia, aquele teatrinho corporativo que a gente conhece bem... Interesses pessoais são o berço da asinidade estratégica, tanto naquela multinacional como para sua empregada doméstica. E vale também para os políticos, por quê não? Ou você acha que ver o Gabeira e o Suplicy – políticos que se notabilizam por uma imagem de honestidade - metidos na farra das passagens aéreas é por acaso? Não é não. É a asinidade estratégica funcionando. Nota do Editor: Luciano Pires (www.lucianopires.com.br) é jornalista, escritor, conferencista e cartunista. Faça parte do Movimento pela Despocotização do Brasil.
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